domingo, 8 de dezembro de 2013

Um ano de blog e muitas Mirelas no coração

Hoje é um dia muito especial para mim, por dois motivos. O primeiro é que completo 20 semanas de gravidez, metade do caminho a percorrer até ter meu primeiro filho nos braços. É uma felicidade muito grande constatar que foi tudo tranquilo e plenamente feliz até aqui. Tenho fortes esperanças de que será assim também nas próximas 20 semanas! O segundo motivo é que o blog O Mundo de Mirela celebra hoje um ano de existência. Ou seja, há exatos 365 dias eu comecei a escrever aqui, com a frase: "Aqui estou eu. Acabei de chegar e ainda não tenho certeza a que vim. Na verdade, não tenho certeza de nada, e por isso vim...". Naquele mesmo dia expliquei: "Perdi meu bebê, fiquei confusa e criei um blog".

Há um ano eu sentia na pele a mesma dor que todos os dias alguém vem aqui relatar. A dor do aborto retido, do Cytotec, da curetagem, da perda, da dúvida, do vazio, do medo e, principalmente, a dor da paciência (sim, ter que ser paciente às vezes dói!). Na época, sem encontrar na internet qualquer depoimento ou informação que confortasse meu coração, comecei a escrever meu próprio relato. Eu só queria desabafar, aliviar minha angústia. Mas acreditava piamente que falaria com ninguém e para ninguém (era como dar um grito imersa numa piscina). Mas eu estava enganada. Aos poucos foram pipocando comentários, sugestões, histórias e muita, muita boa energia para ajudar a me reerguer.

Esse era o espaço de uma Mirela, que agora reúne muitas Mirelas, de todos os cantos e encantos! Com 37 posts, até o momento o blog registra mais de 30.320 acessos e 380 comentários, vindos, além do Brasil, de países como Portugal, Itália, Rússia, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Emirados Árabes Unidos, Angola e França. Para mim, O Mundo de Mirela se transformou em uma rede de força tão impressionante, tão emocionante e tão transformadora, que entrou na lista de "boas heranças" que o bebê que perdi me deixou. Ele me trouxe tanto aprendizado, tanto amor, tantos novos valores, que tudo que vivi com ele e quando o perdi ganhou um sentido diferente.

Então, o que quero hoje, é agradecer ao universo por esse canal de aprendizado, carinho e solidariedade que entrou em minha vida e a todos vocês que me visitam, que me enviam boas energias, que compartilham comigo suas histórias, que me ajudam a ser uma pessoa melhor todos os dias. Espero que minhas palavras possam, de alguma forma, retribuir tudo isso. E que todos encontrem sua felicidade plena, como eu estou encontrando nesse momento. Grande beijo e, de novo, obrigada!

#20semanas

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sábado, 23 de novembro de 2013

Uma grávida na estrada: viajei para o exterior

Um dos pré-requisitos para o meu emprego atual é disponibilidade para viajar. Tô sempre zanzando de um lado para o outro, indo e vindo para São Paulo, Rio, Nordeste e companhia. A maioria das viagens é curta, de um a dois dias. Mas, depois que engravidei, passei a consultar o médico todas as vezes e até agora ele sempre me liberou para embarcar. Diz que só restringirá trabalho e deslocamentos de avião se eu tiver alguma complicação, como sangramentos ou desconforto intenso, o que felizmente não ocorreu até agora e espero que não aconteça nunca.

Mas semana passada foi diferente para mim, porque fiz uma viagem de trabalho ao exterior. Embora o médico tenha me liberado, fiquei mais receosa, porque seriam seis dias fora do país. Tudo bem que fui para um país vizinho, a poucas horas de casa, mas a ideia de estar tão longe do meu médico e do sistema de saúde que me atende me deixou um pouco aflita. Por outro lado, a empresa ofereceu um seguro-viagem bem completo, que incluía uma boa quantia para atendimento médico, inclusive em caso de gestação. Eu já estava com 16 semanas, então resolvi não pirar o cabeção e encarar o desafio com tranquilidade. E lá fomos nós, eu, meu baby e alguns colegas de trabalho.

O que posso dizer da experiência? Deu tudo certo! Não me senti mal nenhuma vez, procurei me alimentar e dormir da maneira mais correta possível - embora longe de casa seja difícil manter alguns hábitos da nossa rotina - e tivemos excelentes resultados no trabalho. Na semana anterior à viagem, meu médico retirou o uso do Utrogestan, o que acho que contribuiu muito para o meu bem-estar (o hormônio potencializava muito os sintomas, como enjoo). Também tive a sorte de estar acompanhada por uma equipe muito tranquila e atenciosa, que o tempo todo checava se eu estava bem e me deixou muito segura.

Na prática, eu estar grávida não fez diferença, correu tudo normalmente. Mas mesmo assim vale lembrar sempre que preciso respeitar meu filho acima de tudo e, antes de qualquer compromisso profissional, ele é a prioridade. Minha sorte é que ele é um bebê muito bonzinho e comportado, não dá trabalho para a mamãe =)

Enfim, a parte mais difícil dessa viagem foi a saudade que sentimos do papai. E foi justamente naquela semana que minha barriga deu uma crescida incrível. Mandei fotos todos os dias e meu marido fazia contato o tempo todo para ver se estávamos bem. Na volta, quando ele nos viu pessoalmente, ficou impressionado com as mudanças no meu corpo - o médico havia me alertado que naquele momento o crescimento seria mais rápido. Agora estamos novamente aqui, os três juntos, curtindo o dia a dia dessa fase linda. Deu tudo certo na viagem, mas nessa hora nada é melhor do que voltar para o "ninho".

#17semanas

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sábado, 9 de novembro de 2013

Rinite de gravidez: eu tive

Cada semana de gestação é uma novidade. Brinco que, se amanhã acordar com o cabelo azul, vou ao Google buscar "cabelo azul gravidez". Na gestação, o normal é sentir coisas anormais. Constipação, dores, cansaço, enjoo e muitas outras coisinhas que costumam ser problemas na vida das pessoas, na da grávida "fazem parte". E quer saber? A gente sente tudo isso com muita satisfação, pelo bebê e pela nossa felicidade. Mas às vezes o bicho pega...

Na semana passada, saí do trabalho para o almoço e estava um calor danado. Quando retornei ao escritório e ao ar condicionado gelado, meu sistema respiratório pifou. Fiquei com o nariz totalmente trancado, comecei a espirrar e a sentir dor nos olhos. Como não sofro de nenhum tipo de alergia, achei que era uma gripe me pegando. Mas no sábado nenhum outro sintoma de gripe havia surgido e a constipação nasal só pirou. Meu marido, que é alérgico, matou a charada: "isso parece uma rinite".

Nem dei bola para o que ele disse, pois nunca tive rinite. Até descobrir que, sim, na gravidez é possível você sofrer a tal "rinite de gravidez". Essa era a novidade da semana! Passei dois dias fazendo inalação em casa - só com soro -, o que amenizou temporariamente os sintomas, mas não eliminou.

Então fui ao médico e ele confirmou o diagnóstico: rinite de gravidez, causada pela queda de imunidade que é natural dessa fase. Receitou-me um remédio de espirrar no nariz, com uma dosagem mínima de corticoide, liberado para uso na gravidez. Farei um tratamento de 21 dias com esse medicamento, mas o médico alertou: "Algumas gestantes sentem isso a gravidez inteira. Nem sempre o tratamento cura a rinite...". Veremos como será o meu caso!

Na verdade o que importante é que, tirando isso, estou ótima e o bebê também. Durante a consulta, ouvi seu coraçãozinho no equipamento que o obstetra tem no consultório. Foi tão bom! Como diz Rita Lee, "tudo por amor".

#15semanas

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

E deu para ver o sexo às 13 semanas e 3 dias =)

Tenho que confessar que, na última postagem, suprimi uma informação muito legal, mas foi só porque queria fazer um post especial para ela. Na semana passada, quando fui fazer o exame de translucência nucal, deu para ver o sexo do bebê! Eu nem tinha criado essa expectativa, estava só preocupada em saber se estava tudo bem com ele. E estava decidida a não perguntar sobre o sexo para o médico, pois achei que ele no máximo daria uma resposta "provável", sem certeza. E eu só queria saber quando houvesse certeza, porque meias verdades não existem, não é?

Mas antes de contar o resultado, quero lançar a questão: intuição de mãe funciona ou não? Meu médico diz que não, que já viu muitas mamães dando o palpite errado. Por isso nem me animei muito com o meu, mas tenho que dizer que eu sentia, desde o primeiro dia, 1.000% de certeza de que seria um menino. Mas, como nunca fui boa palpiteira, também sabia que poderia estar errada (rs). O curioso é que na minha primeira gravidez eu não senti nada disso, e no final aquele bebezinho não veio e nunca saberei se era menino ou menina. Mas este que carrego agora sempre me remeteu a um menino. Cheguei a me sentir culpada. "Vai que é uma menina e eu só penso 'nele'?!", pensava eu. Enfim, vamos aos fatos...

Na semana passada, poucos minutos depois de ter iniciado o exame, o médico soltou espontaneamente um "parece que é menino". Era justamente algo assim, impreciso, que eu não queria ouvir. Agora passaria um mês inteiro pensando que provavelmente seria um menino... Sem ter certeza, de que isso adianta? Porém, mais dois minutinhos de exame e o ecografista acabou confirmando: "É um menino mesmo, sem dúvida". Genteeeeeem, eu estava certa! Mas nunca saberei se foi sorte de apostadora ou intuição de mãe...

#14semanas

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domingo, 27 de outubro de 2013

Exame de translucência nucal realizado e resultados ótimos

A caminho da clínica, na última quarta-feira, perguntei ao meu marido se ele estava nervoso. De cara, ele disse que sim, mas que não queria falar sobre a possibilidade de algo estar dando errado na gravidez. Entendi sua escolha e a aderi. Apesar de estarmos com os corações na mão, focamos no pensamento positivo e no fato de que não havia nenhum sinal de problema até ali. Ou seja, a maior chance era de dar tudo certo.

Na sala de espera, a mão dele suava e a minha gelava. Quando nos chamaram para o exame, meu coração disparou e quase não cabia não peito. Mas o ecografista foi muito gentil e iniciou tudo o mais rápido possível, diminuindo o tempo da nossa aflição. Fez logo a translucência nucal e disse que as notícias eram boas. E  depois desse momento, vivo dias leves e de alegria intensa! 

O resultado da TN foi de 2,0 mm, totalmente dentro do esperado para uma gestação de 13 semanas e 3 dias. Osso naval está visível, assim como os movimentos cardíacos e fetais. Chorei de alegria ao ver o bebezinho na tela, todo formadinho, apesar de seus pouco mais de sete centímetros.
Estava tudo certo também com a placenta, que segundo o médico é fúndica e posterior. Ou seja, está implantada no fundo do útero e na parte de trás, mais perto das costas. Ouvi dizer que mamães com placenta posterior podem sentir menos os movimentos do bebê sob a barriga, porque ele está mais longe dessa superfície. A conferir!

Enfim, foi muita alegria ver que o bebê está bem, cheio de vida. O decorrer do exame foi só felicidade e encantamento com as mãozinhas, olhinhos, narizinho, barriguinha e mexidinhas. Um presente da vida para nós!

#14semanas

Leia também: E deu para ver o sexo às 13 semanas e 3 dias =)

sábado, 19 de outubro de 2013

Tensão pré-exame de translucência nucal

Olá, pessoal! Desculpem a demora para escrever aqui (estava com visita em casa, aí faltou tempo). Mas vamos ao tema do momento em minha vida: o exame de translucência nucal. Hoje completei 13 semanas de gestação, com tudo correndo muito bem. Nenhum sangramento, nenhuma cólica forte, só sintomas normais, tudo como manda o figurino. Mas, apesar de toda essa tranquilidade, estou nervosa com o exame de TN, que está marcado para a próxima quarta-feira (23).

Sei que é um exame importante, que vai conferir se o bebê se formou direitinho até essa fase e se há indícios de alguma síndrome, anomalia, coisa do gênero. Como não sentir um medinho nessa hora? Pergunto-me se é normal ficar tensa ou se estou sendo negativa ao me preocupar com isso. Estou tão impressionada que parece que a todo momento vejo pessoas com alguma deficiência. Acho que é porque estou mais sensível ou atenta à questão, assim como só vemos grávidas na frente quando estamos tentando engravidar ou quando perdemos um bebê (pelo menos comigo foi assim).

Enfim, quero que quarta-feira chegue logo, pois acredito que, o exame revelando que está tudo bem com meu bebê, vou curtir a gravidez com um certo alívio - embora saiba que as coisas ruins não acontecem apenas no primeiro trimestre de gestação e que temos que estar prontos para o que der e vier sempre. Todos estamos sujeitos a sermos mamães e papais de uma criança especial, e se isso acontecer comigo estou certa de que me sairei bem. Mas vale reconhecer que a preparação e os cuidados se tornam bem mais específicos nesses casos e é nisso que fico pensando diante do "e se acontecer?".

Além disso, embora esteja bem menos frequente, o fantasma do aborto retido ainda não foi totalmente exorcizado da minha vida. Enfim... apesar de esse post parecer um pouco pessimista, quero deixar claro que estou me sentindo ótima, que não tenho pressentimentos ruins ou algo assim. Só destaquei esse tema porque, na fase atual, ele é essencial e eu precisava desabafar essa tensão (evito falar sobre isso com as pessoas ao meu redor, justamente porque podem achar que estou sendo negativa ou dramática; nem todos entendem meus receios).

De todo modo, prometo que volto para contar o resultado do exame. E também para responder todos os comentários e perguntas que ainda estão pendentes =)

#12semanas

Leia também: Exame de translucência nucal realizado e resultados ótimos

domingo, 6 de outubro de 2013

O efeito emocional da barriguinha aparecendo

Da última semana para cá, comecei a perceber as primeiras mudanças no meu abdômen. Embora a roupa ainda esconda bem, minha barriguinha começou a "apontar". É uma barriguinha mais durinha, diferente da barriguinha de gordura que conheço bem. Dependendo da forma como me deito, ou como me sento, lá está ela apontando. No banho é quando posso "curti-la" mais e comecei até a conversar com ela (rs).

E é incrível o efeito emocional que essa barriguinha, que por enquanto só eu noto, está surtindo em mim. Ainda tenho receios e pensamentos ruins que tento espantar - medo de que o bebê não esteja bem, que o aborto retido se repita, essas coisas -, mas agora com bem menos frequência. Junto com a barriguinha, começa a crescer em mim um pouquinho mais de tranquilidade sobre a gravidez.

Não sei se essa sensação faz algum sentido - afinal, não raro ouço histórias de pessoas que tiveram problemas na gestação em estágio mais avançado do que o que estou agora -, mas é como se o crescimento da barriga fosse, para mim, um sinal de que tudo está indo bem. Hoje completo 11 semanas, na quarta-feira volto ao médico e estou ansiosa pelo próximo exame. Guenta coração!

#11semanas

Leia também: Tensão pré-exame de translucência nucal

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Fazer ou não fazer o exame sanguíneo de sexagem fetal?

Estou quase concluindo a décima semana de gestação e muitas pessoas já começam a perguntar se sei o sexo do bebê. Eu ainda não sei, mas nessa altura já é possível descobrir, por meio de um exame de sangue que identifica a presença de cromossomos Y, em caso de menino, ou ausência de cromossomos Y, em caso de menina. Esse exame pode ser feito a partir da oitava semana e a taxa de acerto é altíssima (assim como o preço!). O sistema público e os planos de saúde não oferecem o serviço, porque não se trata de um exame essencial para a saúde da mamãe ou do bebê.

Eu não fiz e não pretendo fazer esse exame por três motivos. O primeiro é porque acho muito caro (geralmente, em torno de R$ 300 e R$ 400). Segundo, porque ele apenas adianta uma informação que você terá muito em breve. Terceiro, e mais importante, porque achei muito bom não ter feito esse exame na minha gravidez anterior, que culminou em um aborto retido. Hoje avalio que teria sido muito mais difícil encarar a perda se eu soubesse o sexo do bebê. Não que tenha sido fácil, mas ter perdido “meu menino” ou “minha menina”, que talvez até já tivesse ganhado um nome após o exame, teria sido certamente mais doído.

Acredito que só é possível ver o sexo do bebê pelo ultrassom quando a parte mais importante do desenvolvimento dele já foi um sucesso. Esse será, para mim, o momento perfeito para começar a sonhar com o “meu menino” ou a “minha menina”.

#9semanas

Leia também: O efeito emocional da barriguinha aparecendo

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Coraçãozinho batendo a 160 por minuto!

Um dos dias mais felizes que já vivi começou tenso. Foi no último 9 de setembro, quando fiz a segunda ecografia, para finalmente ver o embrião e saber como ele estava. Eu e meu marido sabíamos que aquele seria um momento-chave (foi nele que esbarramos da última vez). Mesmo assim, eu não estava com medo. Receio, sim; medo, não. Não senti, nem de longe, aquela aflição ruim que tomou conta de mim em 9 de novembro do ano passado, véspera de descobrir o aborto retido. Eu fui tranquila, evitando criar expectativas, me preparando para o que desse e viesse, mas pensando positivo. Entrei de cabeça erguida na mesma sala em que tudo ocorreu dez meses atrás e cumprimentei o mesmo médico ecografista. Preparei-me para sentar na mesma cadeira de exames, e meu marido estava ali, no mesmo cantinho também.

Sabendo da minha ansiedade, antes de iniciar o exame o médico me olhou e disse: “vamos pensar positivo”. Quando começou, a primeira coisa que falou foi que via o embrião e sua atividade cardíaca (ele quis nos tranqüilizar o mais rápido possível e eu agradeço por isso). Olhei imediatamente para o meu marido, que me olhou com um sorrisão de orelha a orelha. Era como passar de ano depois de uma prova de recuperação difícil! Respiramos fundo e o médico continuou: tudo bem com o embrião, tudo bem com a vesícula vitelina, tudo bem com o saco gestacional, tudo bem com o corpo lúteo. Está tudo bem!

Aí, feita a “ronda” no útero, ele começou a aproximar a imagem. Nos mostrou, no meio daquele desenho turvo, um pedacinho que se mexia rápido. “Esse é o coração dele”. E aí veio aquele som lindo: “Flop, flop, flop, flop, flop, flop, flop, flop, flop...”. Eu já tinha ficado grávida antes, mas nunca tinha ouvido/visto o coração do meu filho até ali. Foi a primeira vez, e foi lindo. Eu me emocionei muito, segurei na mão do papai e, assim que saímos da sala, nos abraçamos forte. Nosso gigante de 1,13 cm estava saudável, às 7 semanas e 1 dia.

Agora estou aqui, curtindo esse banho de esperança que foi a segunda ecografia do pré-natal. Já levei o laudo para o meu obstetra e ele também ficou feliz. Mas não baixou a guarda e continua cuidando de mim como alguém que já sofreu um aborto. Na prática, isso significa que continuarei tomando o chato do Utrogestan (que me dá enjoos horrorosos) até a 16ª semana e continuo proibida de namorar até segunda ordem. De resto, estou ótima, trabalhando um montão, tocando o barco com ânimo. Mas com os dois pés bem fincadinhos no chão, vivendo uma semana após a outra. Afinal, gato escaldado tem medo de água fria...

#8semanas

Leia também: Fazer ou não fazer o exame sanguíneo de sexagem fetal?

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Quando contar sobre a gravidez

Nas últimas semanas tenho pensado muito nisso. Na primeira vez que fiquei grávida, a notícia foi tão emocionante que aguentei poucos dias antes de contar a todos a novidade. Nunca me arrependi disso, pois foram dois meses de carinho, cuidados e curtição com a minha gestação. Porém, tenho a impressão de que esse compartilhamento de emoções ampliou a relação do meu bebê com o meu mundo externo. As pessoas passaram a imaginá-lo, a falar dele, a dar sugestões, fazer previsões e até falar com ele (rs). Quando veio a perda, foi uma despedida coletiva, vivida por todos que conviveram com a gravidez. A parte boa é que pude dispor da compreensão e apoio das pessoas durante o período mais difícil – e às vezes essa força vinha de quem eu menos esperava, de gente que sequer estaria na lista de “pessoas para contar”, caso eu preferisse ter sido seletiva na notícia. Foi um grande aprendizado para mim.

Nessa segunda gravidez, e muito a pedido do meu marido, estou sendo mais contida. Só informamos para poucos amigos e familiares, a quem pedimos discrição. No começo fiquei meio frustrada por não contar a todos que estou tendo uma nova chance. Mas, ao longo das semanas, passei a sentir um incrível conforto com essa situação. Não ser o assunto do momento, não ter um monte de gente – alguns que eu mal conheço – falando sobre o meu corpo, o meu filho e o que virá pela frente, está me fazendo um bem danado. Fico mais tranquila e com a cabeça descansada. É como se eu estivesse tendo o direito de viver essa etapa da gestação de forma mais intimista. Em algum momento todo mundo saberá. Para quê ter pressa?

Outra sensação é de que a escolha por não alardear a notícia está fazendo o tempo passar mais rápido. Semana que vem já faço minha segunda ecografia – a mesma na qual descobri o aborto retido, na primeira gravidez. Porém, tenho a impressão de que na primeira vez havia demorado tanto para esse dia chegar! Tanta coisa aconteceu naquele intervalo... Dessa vez, voou. Acho que é porque, no ano passado, eu vivi as primeiras semanas de forma intensa, com todo mundo sabendo e falando disso o tempo todo, o que deixou o caminho mais longo. Estou ansiosa pelo resultado do exame da próxima semana, claro, porque só ele vai me dar garantias de que estamos indo bem. Mas estou mais tranquila para enfrentá-lo, para pensar na gestação de forma geral, amadurecer ideias, para me preparar.

Antes de finalizar esse post, quero destacar só mais uma coisa: sei de muitos casais que optam por não contar a ninguém sobre a gravidez no primeiro trimestre, seja por medo da inveja alheia, seja por medo de perder o bebê. Entendo quem pense assim, embora ache que, se você perder, vai acabar tendo que contar de qualquer jeito. O mais importante, para mim, é a gente saber calcular se esse segredo nos fará mais sofrer do que nos sentir bem. Vale a pena viver tudo isso em solidão? No meu caso, partilhar a vida – com um grupo pequeno de pessoas que seja – faz parte do processo, tanto de cura quanto de concretização da felicidade. Dessa vez, só estou sendo um pouco mais “devagar” na divulgação da notícia =)

#6semanas

Leia também: Coraçãozinho batendo a 160 por minuto!

domingo, 25 de agosto de 2013

Primeira ecografia: 4 semanas e 3 dias

Aqui estou eu, gravidíssima e feliz! Na última terça-feira refiz o beta, que novamente mais que triplicou - foi de 201 mUI/mL a 2.071 mUI/mL em cinco dias. Na quarta, consultei o médico e ele me enviou imediatamente para a ecografia. Confesso que esse era o exame que mais me apavorava. Voltar à clínica, à sala e ao ecografista que participaram de momentos nada fáceis nos últimos meses, como a descoberta do aborto retido e dos restos ovulares que nunca saíam de mim, foi bem tenso. Meu marido estava junto e tentou me acalmar.

E lá fomos nós, para mais um susto: o médico demorou dez minutos para localizar o corpo lúteo. Chegamos a pensar que fosse uma gravidez ectópica (tubária), mas como o beta estava bombando, e nesse tipo de gestação o crescimento é baixo, o ecografista insistiu em procurar até que, lá num cantinho quentinho, estava o nosso baby, com características de quatro semanas e três dias. Respiramos aliviados!

Nessa fase, ainda não dá para ver embrião, muito menos ouvir o coração. Mas os médicos dizem que o andamento da gestação está bem. Agora, é continuar caminhando ao lado da nossa velha amiga paciência, e esperar que a natureza haja. Estou tomando todos os cuidados recomendados pelo médico - inclusive manter o uso do Utrogestan - e pensando positivo. Nada garante que a perda não vá acontecer de novo, mas não tenho medo. Já sei como é isso - quando eu engravidei pela primeira vez, não sabia como ocorria uma perda, e esse desconhecido me atormentava. Estou pronta para o que vier!

#5semanas

Leia também: Quando contar sobre a gravidez



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

BHCG positivo e evoluindo!

Gentem, tô grávida! Ontem refiz o BHCG e deu 201 mUI/mL (com referência de positivo a partir de 50 mUI/mL). Fiquei superfeliz com o resultado. E impressionada. Afinal, o HCG deveria dobrar em dois ou três dias e, nesse período, ele foi de 24 a 201 mUI/mL (mais que triplicou). Bem, espero que não haja nada de mal nisso também - vai saber...

O mais legal foi que, na noite anterior, sonhei com esse número. Por sorte, comentei com meu marido antes de pegarmos o resultado, senão ninguém acreditaria. Algumas horas antes, disse a ele: "Sonhei que tinha dado 200 mUI/mL, mas acho que é impossível, porque seria uma evolução muito alta". Mas dito e feito! Agora ele quer jogar no bicho (kkk). Outra coisa legal desse momento: foi ele - meu marido - quem me deu a notícia de que eu estava grávida (pode isso, Arnaldo?!). Eu estava numa reunião de trabalho e ele acessou o site do laboratório antes. Ligou todo feliz, dizendo que eu havia acertado o resultado.

Mas nem tudo são flores e, depois da felicidade do resultado, tivemos que voltar a colocar os pés no chão. Ainda temos muitas dúvidas sobre o que está acontecendo. Afinal, esses 201 mUI/mL vieram aos 14 dias de atraso menstrual - ou seja, quando eu deveria estar com mais de cinco semanas de gravidez e ter bem mais hormônio.

Por outro lado, como meu ciclo estava muito irregular, pode ter ocorrido uma ovulação suuuuuuuuper tardia. Outro estranhamento que tenho é de os sintomas estarem bombando - muito mais do que quando fiquei grávida pela primeira vez - desde quando o hormônio ainda era quase imperceptível. Só um médico para explicar - ou algum voluntário aí disposto a me ajudar a entender =)

Liguei para o meu médico e ele pediu calma. Disse rapidamente para esperarmos mais uma semana para repetir o beta e, dependendo do resultado, fazer uma ecografia. Farei a consulta na próxima quarta-feira. Daqui até lá, é torcer para o hormônio continuar a evolução esperada. Além de seguir as recomendações do médico: tomar Utrogestan duas vezes por dia (apenas como precaução, até o dia da consulta) e continuar o ácido fólico. Também pediu que evitássemos relações até a consulta.

Outro grande desafio nessa hora é a vontade de contar para todo mundo dessa pequena vitória. Já contei, em segredo, para meia dúzia de pessoas. Mas meu marido, mais racional, está segurando a onda. Ainda não contou para ninguém, nem da família dele. Espero que na semana que vem tenhamos notícias tão boas que o medo da frustração diminua, ou até vá embora de vez...

Leia também: Primeira ecografia: 4 semanas e três dias

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Estou "meio grávida": BHCG inconclusivo!

Prontos para mais um capítulo das lições de paciência que a vida tem me dado? Espero que sim. Como já contei aqui, estou tentado engravidar de novo, mas tenho dificuldades em "traduzir" meu corpo. Minha menstruação anda maluca - às vezes demora 50 dias, noutras só 20 - e várias vezes já confundi sintomas da TPM com gravidez. Este mês, tudo se repetiu. Ciclo atrasado e sensações diferentes. Nem me animei muito - sequer contei para o meu marido - mas na quinta-feira passada fiz um teste de farmácia, que deu negativo. Fiquei triste, mas deixei para lá e fui trabalhar, torcendo para a menstruação descer logo para iniciarmos novas tentativas no período seguinte.

Mas no sábado nada tinha acontecido e percebi meus seios bem mais inchados que o normal. Enormes, na verdade! Além disso, comecei a ter tonturas e enjoos. Corri no Google e li várias histórias sobre exames de farmácia com falso negativo e, de repente, lá estava um grande fio de esperança. Como não havia mais laboratórios abertos, fui numa drogaria e comprei outro teste, que fiz no domingo pela manhã. Pensei: "Se há tantos sintomas, há hormônio. E se há hormônio, agora o teste vai pegar". Nada! Nem sinal daquela segunda listrinha rosa tão esperada. Mas dessa vez não me convenci, porque os sintomas só aumentaram. Além de enormes, meus seios começaram a ficar muito doloridos. Senti pequenas cólicas e a tontura continuou. Além disso, já eram 10 dias de atraso. Resolvi que a primeira coisa que faria nesta segunda-feira seria um exame de BHCG.

E foi o que fiz. Tinha certeza que daria positivo. Dessa vez não era questão de intuição, mas de evidências físicas. Porém, lá veio um balde de água morna na hora de pegar o resultado. Explico: não foi água fria, porque não deu negativo. Todavia, também não confirmou gravidez. Deu 24,0 mIU/mL, valor inconclusivo segundo a tabela do laboratório. Fiquei "meio feliz", porque esse resultado pode se transformar em positivo daqui uns dias - dizem que o hormônio dobra a cada 48 horas e a partir de 50,0 mIU/mL é considerado positivo. Mas fiquei "meio preocupada", porque meu beta está muito baixo para 11 dias de atraso. Na minha primeira gravidez também tive o primeiro teste inconclusivo, mas ele estava acima de 40,0 mIU/mL e com apenas três dias de atraso.

Ok, ok! Vale lembrar que minha menstruação está irregular - difícil de saber o real atraso - e que posso ter tido uma ovulação tardia, como na primeira vez. Mas aí vêm as dúvidas: Quão tardia pode ser uma ovulação? Posso estar com uma semana de gravidez quando os cálculos de data da última menstruação (DUM) indicam cinco semanas? Posso estar de mais tempo com o BHCG baixo desse jeito (isso acontece)? É mal sinal? É relativo? Não é contraditório ter sintomas fortes e hormônio baixo, se é o hormônio que causa os sintomas? Estou grávida? Estive grávida? Estarei grávida? Estou "ligeiramente grávida"? E eu que pensava que já tinha feito todas as perguntas possíveis na primeira gestação... E, ainda, eu que dizia que na próxima só queria descobrir a gravidez com várias semanas, para não viver a aflição desse comecinho (na primeira vez, só vi o corpo lúteo). 

Claro que liguei para o meu médico. Ele me orientou a repetir o exame daqui três dias. Mais uma lição de paciência! Até lá, vida que segue, como se nada estivesse acontecendo (como se isso fosse possível...). Pelo menos meu marido tem bom humor nessas horas: diz que sou a maior descobridora de bebezinhos recém-encomendados... rs

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O medo da perda e os três primeiros meses de gravidez

O assunto de hoje parece mórbido – acho que é mesmo – mas ele vai e vem na minha cabeça. Vivo pensando com os meus botões: “Deve ser tão bom descobrir a gravidez só lá pelo segundo mês, porque dali para o terceiro é um pulinho rápido”. Quando engravidei, descobri logo na terceira semana, e me pareceu uma eternidade o fim do primeiro trimestre – depois do qual eu poderia respirar tranquila (se tivesse chegado lá), porque os riscos de perda são bem menores a partir de então. Mas quando falo isso por aí, logo ouço diversas histórias de pessoas que perderam no quarto, no quinto, até no oitavo mês de gestação. Tem gente que perde o filho na hora do parto, outros perdem quinze dias depois.

Qual mãe nunca se perguntou se estava tudo bem enquanto olhava seu bebezinho dormir? Sei de gente que coloca um espelho no nariz do pobrezinho para ver se ele está respirando. E o primeiro “galo” na cabeça? Horas de vigília da mamãe, depois do tombo! E quando ligam da escola dizendo que aconteceu algo? E quando sai à noite pela primeira vez? E quando começa a dirigir? E quando compra uma moto? E quando vai viajar com os amigos? E quando? E quando? E quando? Infelizmente, tem quem perca o filho com um ano. Com dez anos. Com vinte. Minha tia perdeu o dela com quarenta... E isso pode acontecer por complicações na saúde, acidente, drogas e muitas outras coisas ruins que estão por aí, pela vida.

Então me dei conta de que, desde o primeiro momento que se sabe que está grávida, o medo da perda é para sempre. Bom se ele durasse só três meses! Mas na gravidez o amor só cresce, cresce, cresce, e ninguém quer perder aquele que ama. Digo isso não para que quem já  está numa fase mais avançada da gravidez, ou que já tem filhos, sinta medo. É só meu jeito de dizer a quem ainda está no primeiro trimestre que não se apavore tanto, que não se sinta num grupo de risco, quando na verdade todos os seres vivos fazem parte desse grupo de alguma forma.  

Claro que muitos cuidados devem ser tomados para evitar perdas. Mas, por outro lado, há um cuidado muito importante para a saúde emocional: não permitir que o medo nos torne pessoas negativas, pessimistas, covardes, bitoladas. Ter um filho é gerar uma vida. E todos sabem como a vida é...

Leia também: Estou "meio grávida": BHCG inconclusivo!

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Anticoncepcional: do total equilíbrio às emoções à flor da pele

No ano passado, eu engravidei logo depois que comecei a tentar. Havia interrompido o anticoncepcional poucos meses antes e nas vésperas de descobrir que estava grávida percebi minhas emoções à flor da pele. Assim foi durante os meus dois meses de gestação... Ficou muito mais fácil me emocionar, e me irritar também. Lembro de um dia ter ido à lanchonete para comprar umas esfihas meio caras e, em casa, percebi que recebi menos do que paguei. Senhordocéu! Liguei na lanchonete dando uma bronca daquelas. Já estava de pijama quando dei falta das esfihas e, não satisfeita com a reclamação telefônica, me vesti de novo e fui na lanchonete buscar o que faltava. Em qualquer outra época, eu teria ficado brava, mas com preguiça de voltar lá. Entre meus amigos, sou famosa por não dar barraco, ter sangue-frio (ou de barata), ser um poço de equilíbrio.

Lembro também que, quando estava grávida, me sentia mais ansiosa, mais animada, querendo fazer novas coisas, sair mais, viver mais. Reclamei com meu marido sobre o tédio da nossa rotina e coisas do gênero. Enfim, eu estava mais estriquinada que o normal. Nós dois concluímos que aquilo era obra da bomba hormonal que circulava no meu corpo por causa da gravidez. Mas essa fase passou. Eu perdi o bebê e, por conta do tratamento de “limpeza” do meu útero, voltei a tomar o comprimido, pois não deveria engravidar naquele momento, até segunda ordem do médico.

Pois bem! Passados os meses de tratamento, ganhei alta do médico e interrompi o anticoncepcional mais uma vez. E, adivinhem? Estou estriquinadérrima de novo, mesmo sem estar grávida. Choro mais fácil, me irrito mais fácil, tenho energia sobrando e gana de fazer algumas coisas novas da vida. Foi aí que me caiu a ficha. Creio que, tanto agora quanto no ano passado, o que pode ter mudado a minha sensibilidade é a interrupção do anticoncepcional. Afinal, querendo ou não, a pílula controla nossas taxas hormonais, certo? Ela faz com que os hormônios sigam um caminho minuciosamente planejado, sem sair da linha um dia sequer, não é?

Seria o anticoncepcional o meu “mata-leão”? É ele que mantém aquela pessoa zen, equilibrada e insossa que meus amigos conhecem? Eu sei (e sinto) que ele interfere na libido – no meu caso, diminui quando tomo. Mas agora estou com a nítida impressão de que sou uma com ele, outra sem ele. Ou sou apenas uma maluca que não fala coisa com coisa?

Leia também: O medo da perda e os três primeiros meses de gravidez

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Velha demais para engravidar?!

Sempre achei que, antes dos 30, estava nova demais para engravidar. Isso era, provavelmente, reflexo do desejo de ainda fazer muita coisa na vida antes de ter um bebê. Casei aos 26 e deixei o tempo e a curtição correrem livremente, sem preocupações. Porém, quando completei 30 anos, em 2011, eu sabia que era hora de acordar para o assunto. Mas tinha recém-mudado de emprego e achei que seria "chato" aparecer grávida logo depois de ter sido contratada pela empresa onde sempre quis trabalhar. Adiei os planos para os 31 e... dito e feito: engravidei dois meses depois do meu aniversário. Fiquei feliz em saber que ganharia o bebê ainda com 31. Hoje percebo que esse já era um forte sinal de que a paranoia da idade estava chegando...

Para minha infelicidade, perdi o bebê no segundo mês de gestação e logo voltei a fazer essa conta - especialmente porque, segundo o ecografista, a perda se deu por má formação do embrião, "muito comum em mulheres com mais de 25 anos". Eu não seria mais mãe aos 31 e ainda fiquei com a sensação de que, na verdade, deveria ter sido mãe aos 21 ou algo assim. Era como se minha sensação pulasse direto da fase "nova demais" para a fase "velha demais". Como foi que eu comi essa bola, meudeus?! Sofri, sofri e sofri e, na semana passada, completei 32 pensando nisso. Mas, querem saber o que aconteceu? O medo passou! Parece piada, mas é como se os 31 fossem tão mais que 30, enquanto os 32 são tão menos que 40!

Sou de uma natureza confusa, eu sei. Pouco apegada a certezas e convicções, volta e meia eu mudo de opinião. Acho que, dessa vez, de alguma forma me convenci de que mais importante que a idade é cuidar da minha saúde e ser positiva. Mas... quem sou eu para vir aqui e dizer que a idade não interfere, né? Claro que interfere, sabemos disso! Todavia, as paranoias e ansiedades também mudam o rumo das coisas. A questão é que estou voltando às tentativas com mais tranquilidade, me sentindo bem. Nem nova demais, nem velha demais. Talvez um pouquinho acima do peso, isso sim...

Leia também: Anticoncepcional: do total equilíbrio às emoções à flor da pele 

domingo, 23 de junho de 2013

Intuição com "sinal fraco"

Oi, pessoal! Desculpem o sumiço das últimas semanas. Atrapalhei-me com as minhas tarefas diárias e o blog acabou ficando pra depois e pra depois. A verdade é que esse espaço é, para mim, um canal para dar e receber carinho e não gosto de escrevê-lo na correria, sem o "espírito" que ele merece. Enfim, vamos aos fatos. No meu último post contei que fiz um beta e que, apesar do atraso, deu negativo...

Foram 51 dias sem menstruar! Fui ao médico e ele me disse para deixar a paranoia de lado, porque a ausência do ciclo só é preocupante após três meses e que muitos fatores - inofensivos - podem causar o atraso. De todo modo, ele pediu uma ecografia, pois queria ter certeza de que eu realmente não estava grávida (vai que!). Mas, antes mesmo de eu marcar o exame, a menstruação veio e tudo voltou ao normal. Não estou grávida, nem doente (rsrsrsrs). Fiquei um pouco chateada, e até surpresa com a constatação da não-gravidez. No fundo, eu queria acreditar que o beta pudesse estar errado, e até tinha motivos para isso: sintomas, sintomas e sintomas. Se eles foram reais ou fictícios, só os confins da minha mente é que sabem.

O curioso nisso tudo é o quanto a minha intuição é falha. Eu sei que os sintomas da TPM e da gravidez são muito parecidos e que isso pode confundir qualquer uma, mas eu estava MESMO me sentindo grávida, com mil sensações e tudo mais. Pode ser coisa da minha cuca, eu sei, mas mesmo assim acho engraçado não poder confiar na intuição. Não é a primeira vez que ela erra, inclusive nesse assunto.

Mas, como gosto de fazer, vejo um lado positivo nisso (que serve não só para mim, mas para todos nós). A intuição é como o medo, ela pode se confirmar ou não. Assim como a intuição, o medo também falha - ainda bem. Quantas coisas eu já temi à toa! Coisas que nunca aconteceram. Então, se você está aí pressentindo algo ruim, não sofra por antecedência. Espere ser real. Da mesma forma, se está certo de que algo muito bom vai ocorrer, mantenha a esperança, mas se prepare para ficar bem se não acontecer, para perseverar mesmo assim.

Para mim, esse episódio é mais um sinal de que temos que deixar a vida acontecer, sem tentar adivinhá-la, pressenti-la ou até forçá-la. Relaxar, não superdimensionar as coisas, não procurar pelo em ovo, distrair-se com outros campos da vida, deixar que ela aconteça por si só. Essa é a lição que eu tiro. O que não significa, óbvio, que não vou tentar colaborar para que tudo dê certo no final ;)

Leia também: Velha demais para engravidar?!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

BHCG negativo e novas paranoias

Hei, pessoal.  Lá venho eu com mais um capítulo da minha oscilação entre “acho que estou grávida” e “acho que tenho um problema grave”. Brincadeiras à parte, é assim mesmo que me sinto. Como descrevi no blog, nada está acontecendo de forma muito normal nos últimos meses. No post anterior eu até festejei que meu organismo havia reagido bem à histeroscopia cirúrgica e apostei algumas fichas na possibilidade de estar grávida, por causa do atraso menstrual e de um ou outro sintominha. Mas, voltei às velhas preocupações e consultas “secretas” ao Google.

No dia 9 de maio, com uma semana de atraso, não me aguentei de curiosidade e fiz um beta, que deu negativo. Confesso que baquiei, porque tinha tudo para ser. Ok, melhor relaxar e esperar. Afinal, todas as vezes que fiz testes que deram negativos a menstruação veio logo em seguida – como se eu a estivesse segurando com a cuca! Mas dessa vez não foi assim, mesmo eu me conformando com o resultado. E isso está me preocupando muito. Continuo com um ou outro sintominha, como cólicas leves, e agora já são duas semanas de atraso.

Enquanto aguardo o dia da consulta no médico, fico pensando no que pode estar acontecendo. São tantas variáveis que nem sei com o que exatamente me enlouquecer. Cada hora surto com uma coisa diferente. Esse atraso todo pode ser uma simples reação à interrupção do anticoncepcional? Será que a histeroscopia cirúrgica pode ter causado algo no meu útero, como a formação de sinéquias? Ou, ainda, há alguma chance de um beta dar negativo no começo da gravidez?! Para cada uma dessas perguntas há um milhão de respostas diferentes no Google. Então, ao invés de navegar nesse mar de tortura, resolvi escrever aqui, que me faz bem sem me fazer mal.

Espero dar boas notícias em breve – sejam quais forem – e receber também. Estou acompanhando ansiosa os outros casos que estão sendo comentados no blog e novamente agradeço por compartilharem suas histórias comigo. Vocês são inspiração positiva para os meus momentos de agonia. Beijo no coração de todas, e nos coraçõezinhos que batem dentro de algumas de vocês nesse momento.

Leita também: Intuição com "sinal fraco".

domingo, 5 de maio de 2013

Eu retornei das férias, mas minha menstruação não...

Fim de férias. Fim de feira. Bem-vindo, mundo real! Aqui estou eu, já desfazendo as malas, lavando roupa, retornando ao trabalho, às aulas de inglês, à rotina de todo dia. Felizmente, deixei para trás aquela série de consultas, ecografias e cirurgias gerada pelo aborto retido e os restos ovulares que tomaram conta da minha vida nos últimos meses. Estou aliviada e esperançosa de que, como diz Lulu, "daqui pra frente, tudo vai ser diferente".

Fiz a histeroscopia cirúrgica para retirar os últimos restos ovulares do útero no dia 12 de março. E recebi alta do tratamento - que durou meses - no dia 25 daquele mês. Cinco dias depois embarquei para nossa viagem de férias, ainda sem saber totalmente como meu organismo reagiria ao esforço físico que um longo "mochilão" exige. O médico disse que ainda viriam pequenos sangramentos, mas que logo cessariam, e foi o que aconteceu. Minha menstruação veio normalmente no dia 5 de abril, em tempo e quantidade supernormais. Bom sinal, né? Aproveitei para deixar de tomar o anticoncepcional e passei muito bem nas semanas seguintes.

Agora as férias se acabaram e estou ansiosa pela vinda do próximo ciclo, que ainda não apareceu. Já são 30 dias sem menstruação (salvo um corrimento amarronzado que veio na semana passada) e não sei se tenho sintomas de gravidez. Quer dizer, acho que tenho, mas não sei dizer se são reais ou coisa da minha cabeça. Já aconteceu, noutra vez, de minha menstruação demorar 40 dias e eu ter certeza de que estava grávida, mas era só um atraso. Dessa vez, antes mesmo de atrasar comecei a sentir sintomas. Os principais são cólicas (sinto há mais de uma semana e não desce nada), certo inchaço nos seios, enjoos bobos, dor nas costas e, principalmente, um calorão doido. Fiz um teste de gravidez na semana passada e deu negativo (mas sequer havia atraso, então pode ter sido cedo demais...). Poderia eu ter engravidado já no primeiro mês sem a pílula? Sabe-se lá!

Anfam, voltemos ao tema "paciência". Aqui está ela de novo, batendo à minha porta. Vamos aguardar, relaxar e ver no que dá. Estou pensando em quanto tempo é mais seguro esperar para refazer o teste, já que uma vez tive 10 dias de atraso e nem era gravidez. Talvez seja melhor esperar mais uns 15 dias. Será que consigo? Não sei. Volto em breve para contar!

Leia também: BHCG negativo e novas paranoias

sexta-feira, 29 de março de 2013

A gente pensa que planeja a vida, mas é ela que se planeja para nós

Há um ano eu e meu marido nos preparávamos para fazer uma das viagens mais incríveis de nossas vidas. Já tínhamos viajado bastante pela Europa e América Latina, mas em junho do ano passado fomos para a Ásia! A ideia foi realizar o que chamamos de "despedida de um casal sem filhos". Pensamos que era hora de fazer alguma maluquice que depois, com um bebê, não seria mais possível. Passamos pelo Japão, Malásia, Tailândia e até pelos Emirados Árabes, no Oriente Médio. Maravilhoso! E foi nessa viagem que parei de tomar o anticoncepcional. Engravidei dois meses depois, no finalzinho de agosto. Aí, esquecemos os roteiros turísticos e começamos a pensar em organizar a vida para receber nosso filho da melhor maneira possível.

Mas, em novembro, quando descobrimos que nosso bebê não viria mais e tive que passar pelas terríveis experiências do aborto retido, do Cytotec e da curetagem, ficamos sem chão. Estávamos estudando trocar de carro e até de apartamento, vendo escolinhas perto de casa, consultando planos de saúde, enxoval, enfim, tudo que se quer para um filho. E isso perdeu o sentido do dia para a noite. Aos poucos fomos interrompendo esses planos, porque não poderíamos continuar planejando coisas para um bebê que não viria agora. Esvaziamos nossa cabeça e começamos a pensar na possibilidade de fazer uma nova viagem. Afinal, já que a natureza adiou o sonho da maternidade, a vida estava nos dando a chance para mais uma maluquice de "casal sem filhos".

No final de novembro começamos a pesquisar passagens e encontramos uma promoção para viajar em abril. Mas eu tinha recém feito a curetagem e meu médico disse que em dois meses eu poderia voltar a tentar uma gravidez. Fizemos as contas e percebemos que, se seguíssemos o cronograma do médico, talvez eu já estivesse grávida em abril, e não é muito legal fazer "maluquices" quando se está grávida, né? Com o coração apertado, ficamos na dúvida se teríamos coragem de adiar as tentativas por alguns meses para fazer a viagem com tranquilidade. Desejamos muito um bebê e queríamos tentar novamente assim que possível. Esperar até abril poderia ser desanimador e a viagem poderia virar um empecilho e não um motivo de alegria. 

Porém, eu ainda não tinha ganhado alta e tinha uma ecografia pela frente. Pensei, "temos que trabalhar com o que existe agora", e o que existia naquele momento era a incerteza sobre quando poderia engravidar de novo. Então apoiei a ideia da viagem e compramos as passagens para 30 de março. E eis que vieram as surpresas do destino: nos meses seguintes, ecografia após ecografia, fui vivendo as frustrações de ainda ter restos ovulares no útero. Fiz tratamento com hormônios, aguardei vários ciclos, foram diversos exames, até que só a histeroscopia cirúrgica, em 12 de março, limpou de vez o meu útero. E eu estava aflita desde antes do procedimento, pois nessa altura nossa viagem estava toda planejada e paga, e comecei a temer que o problema não estivesse resolvido até a data do embarque, ou até que ele inviabilizasse a viagem. Seria uma tristeza! Mas perseverei...

E quem diria que eu receberia alta para voltar a engravidar justamente na semana da viagem? Fui liberada na segunda-feira passada, e amanhã embarcaremos nessa próxima aventura. É muita emoção! A vida faz dessas com a gente... Agora estou fazendo as malas com a sensação de que as férias serão de pura comemoração, de libertação. É como fazer festa no dia exato do aniversário (bem mais gostoso!). A viagem será na hora mais perfeita! E estamos muito felizes por termos apostado nessa ideia, pois como fui proibida de engravidar nos últimos meses - até voltei a tomar a pílula - de nada teria adiantado desistir da aventura em troca de engravidar mais rápido. Teríamos ficado sem as duas coisas.

Agora estamos prontos para recomeçar. Vamos viajar de novo, nos divertir de novo, sonhar de novo com um bebê, de novo vou parar de tomar o anticoncepcional e espero engravidar em breve, de novo. Talvez eu nem consiga aparecer por aqui nas próximas semanas - mas juro que vou tentar mandar notícias, mesmo que sejam rápidas. Quando retornar, prometo contar como foi. E, de onde estiver, estarei enviando energias positivas a todas que ainda estão passando pelos desafios da perda, do tratamento e da ansiedade. Lembrem-se: a vida está planejando algo para cada uma de nós. Só nos cabe ter paciência e colaborar!

Leia também: Eu retornei das férias, mas minha menstruação não...

terça-feira, 26 de março de 2013

Muito feliz: minha odisseia acabou!

Pensa num dia leve, numa noite bem dormida, em acordar feliz da vida! Foi assim que vivi de ontem para hoje, desde o momento em que o médico que fez a minha histeroscopia cirúrgica disse que eu estava liberada. Ele explicou que o nódulo polipóide que eu tinha no útero era, na verdade, os restos ovulares que durante meses apareceram nas ecografias, que o meu corpo de fato não conseguiu expelir e que por uma questão de anatomia assumiram o formato de um nódulo ou pólipo. Foi isso que apareceu no laudo da biópsia e nada mais. De resto, pelo que ele viu durante a histeroscopia, está tudo certo. Ufaaa!

Mas, preciso dizer uma coisa: alguns médicos nos tratam de forma tão indiferente, tão sem envolvimento, que eu fico até com um pé atrás. Ontem, enquanto me dava o resultado (positivo) da cirurgia, o médico parecia tão desconcentrado, com a cabeça tão em outro lugar, que me passou insegurança. Meu marido chegou a perguntar se eu achava que estava tudo bem mesmo. E olha que estou pagando os honorários desse médico, é particular! Não vou fazer disso mais uma paranoia, mas fica aqui registrada minha indignação com a indiferença demonstrada por muitos profissionais da saúde, que não estão nem aí se aquele momento está sendo difícil para você ou se você tem dúvidas.

Hoje pela manhã, por exemplo, fiquei meio cismada com um pequeno sangramento que apareceu. Eu não estava mais sangrando por causa do procedimento e estou tomando anticoncepcional, por isso minha estranheza. Será que é normal sangrar 15 dias depois da histeroscopia cirúrgica, mesmo depois de a recuperação parecer já ter acabado? Espero que sim... Se isso aumentar ou persistir, vou ligar para o médico.

Enfim, ele me disse que já posso tentar uma nova gravidez no próximo mês. Agora vou me esforçar para eliminar quaisquer resquícios de paranoia sobre tudo que passei e me preparar para a próxima tentativa. Apesar da cisma com o sangramento de hoje, estou feliz! E quero compartilhar isso com todos que estiveram ao meu lado (física ou virtualmente) na odisseia que vivi nos últimos quatro meses. Obrigada pelo apoio! Que sejamos todos muito felizes como estou hoje, cada um a seu tempo, cada um em seu tapete =)

Leia também: A gente pensa que planeja a vida, mas é ela que se planeja para nós

sexta-feira, 22 de março de 2013

Nem totalmente otimista, nem totalmente pessimista


Tenho respeitado com êxito o pedido de paciência feito pela vida. Estou tentando cuidar de mim, do meu corpo, da minha mente e das coisas que não podem parar – trabalho, pós-graduação, inglês, planejamento de férias, declaração do imposto de renda, economias e todos esses temas que fazem parte da nossa vida, com ou sem gestação, com ou sem perdas, com ou sem filhos. Tenho tentado acreditar, no fundo do coração, que o ciclo da perda do meu bebê foi encerrado com a histeroscopia cirúrgica que fiz no dia 12 de março. Tenho, mesmo, sido uma pessoa positiva.

Já sou capaz de pensar numa próxima gravidez. Por algum motivo, agora sinto isso como uma possibilidade, algo que está mais perto de acontecer e que talvez, dessa vez, seja feliz. Sinto alegria ao imaginar. Mas, como ainda preciso esperar o feedback do médico sobre a cirurgia e sobre o resultado da biópsia, às vezes fico na dúvida se deveria me permitir pensar nessas coisas ou se é melhor abstrair, não pensar nisso. Sonho com o dia em que o médico dirá: “Pronto, agora está tudo certo com você”. Talvez isso aconteça muito logo, talvez não. Só saberei na hora de saber. E o que pensar até lá? E a vontade de sentir que o sofrimento acabou? E o medo de descobrir que ainda não estou pronta?

Não tenho as respostas, apenas as perguntas. Mas para o quê nessa vida já temos todas as respostas? Quase nada. Então, viver um dia após o outro é o que tenho feito. Nem totalmente otimista, nem totalmente pessimista. Ainda faltam alguns dias para a próxima consulta, e preciso ficar bem até lá. Só isso.

Leia também: Muito feliz: minha odisseia acabou!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Histeroscopia cirúrgica realizada. E a espera continua!

Antes de tudo, quero dizer que deu tudo certo na histeroscopia cirúrgica que fiz ontem. Segundo o médico, o nódulo era "grandinho", de 1,5 cm, mas correu tudo bem com o procedimento de retirada. Fiquei internada até o início da noite, meio grogue por causa da sedação e dos remédios para dor. Agora estou bem, sem medicação e sem dor. O sangramento é pouco, então acho que a recuperação será bem tranquila mesmo. De todo modo, por recomendação do cirurgião, ficarei de "molho" em casa por quatro dias.

Essa cirurgia me fez pensar de novo no "terrorismo" que fazemos com nossas mentes. Fiquei tão nervosa na véspera e na hora de ir para o centro cirúrgico, que tinha vontade de chorar e tremia de verdade. Isso porque, claro, tinha pesquisado tudo na internet, sobre o que é o procedimento, como ele é feito, com quais equipamentos, inclusive assisti alguns vídeos. É uma cirurgia muito, muito simples, mas para mim, que não sou da área médica, qualquer imagem que mostre uma parte interna do corpo, junto com um instrumento de metal e sangue será sempre extremamente aflitiva. E foi com essa aflição que deitei na mesa de operação. Mas, para quê?! Não sou eu que opero, não sou eu que ajudo o médico, eu sequer vejo o que está acontecendo durante o procedimento. Nesse caso, a minha parte era apenas ir lá, dormir feito um anjo, acordar e ir embora medicada e com um pequeno sangramento. Para que me preocupar com o resto, sobre o qual não tenho controle e nem responsabilidade? Para nada, mas não consigo evitar. Muito louco isso. Talvez um psicólogo diga que sou muito centralizadora, sei lá.

Enfim, mas se é por falta de aprendizado, lá vem a vida com a lição da paciência novamente. Agora tenho que aguardar 15 dias pelo resultado da biópsia. Só com isso retornarei ao cirurgião para ver se está tudo bem e, se tudo der certo, receber a alta dele. Mas ontem, no hospital, não me contive e perguntei quanto tempo depois dessa histeroscopia eu poderia voltar a tentar engravidar. Ele disse dois meses. Depois voltou atrás e disse: "dois não, três meses". Fiquei surpresa, porque tinha lido que geralmente as pacientes são liberadas logo após o período de recuperação da cirurgia, poucos dias. Enfim, vou tentar conversar melhor sobre isso na próxima consulta. Por hora, prefiro nem alimentar a ansiedade por uma próxima gravidez. Não acho que seja benéfico nesse momento. Estar bem, esperançosa e animada é o que temos para hoje! O resto virá ao seu tempo.

Leia também: Nem totalmente otimista, nem totalmente pessimista

domingo, 10 de março de 2013

Ansiedade de véspera: próxima etapa agendada!

Sabe aquela sensação de estar apertada para ir ao banheiro e, quando está chegando lá, achar que não vai mais conseguir segurar? Ou quando você está finalizando um serviço longuérrimo e, só por saber que está acabando, parece que as últimas tarefas são as mais difíceis? Isso tudo porque existe mais uma etapa entre o agora e a hora de dizer "ufa, acabou!". É o que estou sentindo. Minha histeroscopia cirúrgica para retirada do nódulo no útero  foi marcada para daqui dois dias. Trago uma mistura de sentimentos. Primeiro, o de preocupação em estar preparada, em deixar tudo pronto para o procedimento. Segundo, o de que esses dois dias passem logo para que a espera acabe e tudo aconteça de uma vez. Terceiro, o de esperança de que essa seja de fato a última batalha da minha guerra contra a série de intercorrências vivida após o aborto.

Essa "ansiedade de véspera" também tem a ver com as expectativas que vivi nos últimos dias. Ao tentar agendar a histeroscopia cirúrgica fui informada de que poderia demorar até 21 dias úteis (21 dias úteis!) para que o plano de saúde autorizasse o procedimento. E só depois disso é possível agendar com o médico e o hospital. Quase caí para trás. Na prática, seria mais um mês de espera, mais uma mês de paciência. Fiquei superdesanimada, mas o cirurgião me recomendou adiantar todos os exames necessários para a operação (de sangue, cardiológicos, com o anestesista) para deixar tudo pronto e, assim que o plano liberasse, agendaríamos para os dias seguintes. Bom, pelo menos eu teria com o que me ocupar nesse período.

Saí logo fazendo as consultas e exames necessários e já está quase tudo pronto (só falta a entrevista com o anestesista, marcada para amanhã). E heis que o destino agiu a meu favor: o plano de saúde autorizou o procedimento em apenas uma semana e o médico já pré-agendou a cirurgia para a próxima terça-feira. Só falta a consulta de amanhã e lá vou eu para o hospital novamente. Dessa vez será mais rápido do que quando me internei para receber o Cytotec e fazer a curetagem. Nem devo dormir no hospital. Estou feliz que as coisas estão acontecendo, e ansiosa!

Mas preciso falar de um quarto sentimento que está aqui, escondido no coração: o medo de estar enganada,  de que essa não seja a última batalha da guerra. Eu sei, preciso ser otimista (e tenho motivos para ser!), mas penso que na hora H o médico pode ver que há algo errado lá dentro, ou que daqui uns dias a biópsia possa revelar outro problema, essas coisas que não deveríamos ficar tentando "calcular", mas calculamos. Não é um sentimento predominante, mas ele está aqui e preciso lidar com isso. Ao mesmo tempo, não me culpo por essas sensações negativas. Afinal, hoje faz quatro meses que perdi meu bebê, e desde então várias vezes achei que estava na última batalha, e não estava.

Leia também: Histeroscopia cirúrgica realizada. E a espera continua! 

sábado, 2 de março de 2013

À espera da histeroscopia cirúrgica

Depois do meu último post, ansioso e aflito, volto aqui mais calma, mais certa de que tudo ficará bem. Fiquei até meio arrependida de ter escrito no calor da inquietude - não será bom para ninguém ler mais um post desesperado por aí - mas tudo bem, a nossa vida é feita de altos e baixos e não tem como, aqui, fingir que não é assim.

Alguns dias já se passaram, já visitei dois especialistas depois da ecografia e meu coração já se aquietou. Meu médico explicou que o nódulo pode, sim, ser resultado do processo de aborto. Também pode ser um mioma. Ou, ainda, um pólipo que eu já tinha antes da gravidez - o que acho improvável, porque sempre fiz ecografias e nunca apareceu nada. Mas, enfim, nem mesmo a medicina tem todas as respostas que queremos, no tempo e do jeito que queremos.

Muito provavelmente a histeroscopia cirúrgica, seguida de uma biópsia, sanará muitas dessas dúvidas. Mas, até lá, terei que esperar mais um pouco. De novo, a lição da paciência! Na verdade, o que tenho que lembrar é que de nada resolve sanar minhas dúvidas. Isso não muda o laudo, nem o passado, nem o futuro. A chave é confiar nos médicos e viver uma espera tranquila até a próxima etapa.

Meu médico indicou um especialista nesse procedimento e no mesmo dia fui consultar com ele. Não me deu muitos detalhes sobre o procedimento, só sei que não precisarei dormir no hospital (entro e saio no mesmo dia), que serei sedada e que o tempo de cirurgia é de 30 minutos, mais ou menos. Agora estou esperando, de dedos cruzados, coração aberto e pensamento positivo, o agendamento do procedimento. Espero que seja logo, mas já aprendi que as coisas acontecerão no seu tempo e que, até lá, terei que viver normalmente. É o que estou fazendo, trabalhando, escrevendo a monografia da pós-graduação, planejando as próximas férias, ajeitando a minha casa, papeando com os amigos, como se nada estivesse acontecendo.

Como diz São Raul: "Levante sua mão sedenta e recomece a andar. Não pense que a cabeça aguenta se você parar. Não, não, não, não".

Leia também: Ansiedade de véspera: próxima etapa agendada!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Terceira ecografia frustrante: nódulo polipóide miometrial

Não sei mais o que pensar, nem o que sentir. Continuo perseverante, mas me sinto nadando num mar agitado, sendo empurrada para baixo pela arrebentação e tomando uma nova onda na cabeça cada vez que subo à superfície. Sou boa nadadora, eu sei, mas nunca enfrentei um mar assim... Eu engravidei, abortei, o aborto ficou retido, meu organismo não expeliu, o Cytotec também não serviu, tive que curetar, fiquei com restos ovulares, meu corpo não conseguiu eliminá-los, tratamentos com remédios também não funcionaram, os restos continuaram lá e, agora, três ecografias e três meses depois da curetagem, quando achei que poderia ter "alta" disso tudo, o laudo foi: nódulo polipóide miometrial! Fato novo na parada, não sei se causado pelos restos ovulares ou se não têm nada a ver. Por causa dele minha menstruação está tão longa (oito dias) e sinto cólicas homéricas.

Mais quantos capítulos a minha novela vai ter? Será que terei um final feliz? Tendo a acreditar que sim, afinal, por telefone meu médico já adiantou que essas coisas de nódulo polipóide, pólipo, são muito comuns e que as chances de malignidade são baixíssimas (menos de 1%). Mas nessa altura do campeonato, para quem vem caindo em tantas exceções, nenhuma estatística tem efeito calmante. Bem... ele me explicou que terei que fazer uma histeroscopia cirúrgica para retirar o nódulo e que o procedimento é simples e rápido. Deve me indicar um especialista, que só faz esse tipo de operação.

Tenho uma grande lista de dúvidas. Uma, como já disse, é se os restos ovulares "viraram" o nódulo. Outra é se nódulo polipóide e pólipo são a mesma coisa. Se forem, ótimo, porque pelo que li na internet os pólipos são mesmo comuns e fáceis de se tratar. Mas, óbvio, li muita coisa ruim também. Claro que tive que dar aquela brecada na curiosidade pois, como sempre digo aqui, jogar as coisas no Google é caminho certo para o desespero. Na próxima quarta-feira vou ao médico e ele, sim, vai tirar corretamente todas as minhas dúvidas. Até lá, preciso manter a calma e, principalmente, aquela nova amiga que foi tema do meu post anterior: a paciência.

A parte boa da ecografia é que o fantasma chamado neoplasia trofoblástica gestacional, que eu mesma criei por ler coisas do Google, parece que está descartado. Meu útero já está em seu tamanho normal e não tenho mais sintomas de gravidez. Enfim, lá vou eu com o meu tapete, em mais essa etapa. Sei que já fui mais serena nos meus posts, mas ainda não consegui refletir sobre essa novidade para traduzi-la em palavras que não sejam essas, aflitas. Espero em breve voltar aqui mais calma. Para isso, tenho ouvido uma música que tocou na rádio quando eu ia para a clínica de ecografias, na última sexta-feira, e me fez chorar antes mesmo de fazer o exame. Vocês conhecem, ela diz assim:

"Veja. Não diga que a canção está perdida. Tenha fé em deus, tenha fé na vida. Tente outra vez.
Beba. Pois a água viva ainda tá na fonte. Você tem dois pés para cruzar a ponte. Nada acabou.
Tente. Levante sua mão sedenta e recomece a andar. Não pense que a cabeça aguenta se você parar.
Não! Não! Não! Não! Há uma voz que canta, uma voz que dança, uma voz que gira, bailando no ar.
Queira. Basta ser sincero e desejar profundo. Você será capaz de sacudir o mundo. Vai! Tente outra vez.
Tente. E não diga que a vitória está perdida, se é de batalhas que se vive a vida. Tente outra vez!" (Raul Seixas).

É piegas, eu sei. Mas pensei em mim, pensei em vocês, e chorei.

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Segunda ecografia frustrante e as mil lições de paciência

Perder o bebê me trouxe muitas lições, assim como ao meu marido. Aprendemos principalmente que, por mais que planejemos tudo direitinho, não estamos no controle. Mas nenhuma lição está sendo tão dura quanto a da paciência! Após o diagnóstico do aborto retido, não bastassem os 15 dias esperando o organismo expelir e mais os 15 dias tomando Methergin após a curetagem, uma ecografia mostrou que eu ainda tinha restos ovulares. Fui para a consulta seguinte já me preparando para uma nova cirurgia. E nem medo disso eu sentia pois, depois de ter enchido a minha cabeça sobre a tal neoplasia trofoblástica gestacional, eu tinha perdido a paciência e tudo que queria era acabar com essa história de uma vez, fosse como fosse.

Porém, meu médico tratou uma segunda curetagem como plano B. Não queria fazer a cirurgia novamente em tão pouco tempo. Então me propôs um tratamento alternativo, com uso de hormônios. Em resumo, durante sete dias tomei uma bomba hormonal (equivalente a três vezes a quantidade de anticoncepcional que uma mulher consome normalmente), com o objetivo de induzir um sangramento intenso que pudesse trazer consigo os restos ovulares, vencendo o "vaso nutridor" que os segurava fortemente no meu útero. "Se prepara, porque vai doer e virá muito sangue", alertou o médico. Mas o maior desconforto, mesmo, foi causado pelo baque hormonal. Inchei, vomitei, tive alterações de humor, essas coisas. Aí foram mais dez dias de espera (haja lição de paciência!), até que veio o grande sangramento, nem tão assustador quanto eu estava esperando. Cinco dias depois, por orientação médica, voltei a tomar o anticoncepcional normalmente. "Anticoncepcional nessa altura? Mas eu quero engravidar de novo quando tudo isso acabar!", pensei. Mas antes que eu questionasse, o médico explicou: "Seu útero precisa descansar". Eu eu entendi: "Você definitivamente vai ter que aprender a ter paciência com a vida". E assim está sendo. Na marra, estou aprendendo.

O combinado com o médico era de que, alguns dias após "a grande menstruação", eu faria uma nova ecografia para sabermos se o tratamento funcionou. E nesses dias exercitei minha mente. Eu precisava aprender a seguir a vida, ser feliz e esperar ao mesmo tempo. Mas não é nada fácil levar as outras coisas (atividades profissionais, encontros com os amigos, casamentos, festinhas, sorrisos) como se você não estivesse morrendo de pressa para que aquele tempo passasse logo. Eu tentei (e incrivelmente consegui) me manter otimista, até que chegou o dia da esperada segunda ecografia...

Na hora H, decidi que não queria que meu marido fosse comigo. Sim, eu gosto de dividir as coisas com ele, mas ele também estava ansioso e sua presença me deixava ainda mais nervosa. Não sei ao certo até agora, mas talvez haja aí um sentimento de culpa, meu, por estarmos passando por tudo isso. É idiotice, eu sei, mas talvez seja real. Não sei dizer. Enfim, fui sozinha e pelo caminho tudo que pedi foi que eu não saísse mal daquela clínica. Que, independentemente do resultado, eu saísse bem, forte, pronta para o que der e vier. E assim foi: o tratamento não foi suficiente, os restos ovulares haviam diminuído, mas um pequeno resíduo continuava ali, seguro pelo incansável "vaso nutridor". A parte boa é que o meu mantra do caminho teve efeito. Eu não me abalei e não enchi o ecografista de perguntas desesperadas. Fiz apenas uma: "Dr., meu médico está de férias, volta em 20 dias, e não sei se devo comunicá-lo desse resultado ou aguardar seu retorno". Ele respondeu: "Pode aguardar. Não há emergência no seu caso". 20 dias! Dá para acreditar em mais essa lição de paciência?! Prometi a mim mesma que não atrapalharia as férias do médico, que viveria mais esse período feliz e seguindo a rotina e que, principalmente, não fuçaria na internet sobre esse tipo de caso. Tirando essa parte sobre fuçar na internet, acho que consegui cumprir bem a promessa.

Assim que o doutor voltou das férias fui ao consultório, certa de que dessa vez ele marcaria a curetagem. Porém, entre o dia da ecografia e o da consulta eu havia menstruado e ele achou por bem repetir o exame antes de agendar o procedimento (vai que dessa vez o sangramento limpou tudo!). Mas, quando fui marcar o exame, me disseram que o melhor era fazê-lo entre o quinto e o oitavo dia após a menstruação. Isso já tinha passado e, sim, acreditem, eu tive que esperar mais 15 dias até a próxima menstruação - que foi intensa, longa e muito doída. E aqui passo a contar minha história em tempo real. Os posts anteriores foram sempre escritos tempos depois do ocorrido, mas agora escrevo a vocês lá de dentro do olho do furação: amanhã, 22 de fevereiro, farei a minha terceira ecografia. E, confesso, minha sensação é de que terei que enfrentar mais alguma grande lição de paciência. Provavelmente por causa das fortes cólicas da última menstruação, sinto que esse ciclo ainda não se encerrou...

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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Estatísticas à parte... a minoria é a maioria!

Se há uma coisa que eu sempre pude dizer com orgulho é que tenho uma vida de sonhos. Nunca passei necessidade, tive acesso aos estudos, trabalho na profissão que escolhi, já consegui realizar muitas coisas que desejava, me sinto imensamente amada pela minha família, tenho amigos incríveis, tenho ótima saúde, encontrei um grande amor, enfim, levo um vidão, daqueles que não se pode reclamar. Por isso, creio, foi tão estranho experimentar, pela primeira vez, a sensação de ser uma exceção, de não conseguir viver a gravidez, ou mesmo o aborto natural, como a maioria vive. Eu entrei para a minoria que perde o bebê; para a minoria que sofre aborto retido; para a minoria que não reage bem ao Cytotec; para a minoria que continua com restos ovulares depois da curetagem; e para a minoria que passa meses tentando eliminar esses restos com tratamentos.

Quando eu perdi o bebê, comecei a observar as gestantes felizes na rua e sentir um forte desejo de ter sido como elas (acho que isso é normal). Três meses depois, qualquer mulher que me contasse que perdeu seu bebê mas teve uma recuperação rápida após o aborto já me parecia logo um ser de sorte. Como eu queria que fosse assim comigo! Só isso - perder, mas ter o útero limpinho logo depois - já me faria satisfeita naquele momento. É estranha a sensação de não ter, ou não conseguir realizar, algo tão comum para a maioria. Mas mesmo assim não pude reclamar, porque estava sentindo isso na pele pela primeira vez aos 31 anos, enquanto muitos convivem com a sensação a vida inteira, em várias outras coisas, por questões sociais, raciais, físicas, de orientação sexual etc.

Até que um dia fui ao médico e lá encontrei duas gestantes felizes, com seus barrigões. Uma, grávida de oito meses, contou que estava preocupada pois seu líquido amniótico estava reduzido. A outra tinha na mão várias caixas de injeções que, não sei ao certo, mas parece que eram para ajudar a segurar o bebê. Então me lembrei de uma moça que tomou hormônios na gravidez, de outra cujo bebê nasceu com um probleminha de formação, de outra que teve câncer, de outra que nunca conseguiu engravidar e ainda de outra que nem sabe se consegue porque simplesmente não tem sorte no amor. E foi aí que me dei conta de que, de longe, todo mundo parece mais feliz, com menos problemas do que nós. Mas de perto todos têm suas intercorrências na vida. Talvez até estejam sendo bem sucedidos em algo que você não foi, mas podem estar sofrendo duramente por problemas que você não tem e até prefeririam estar no seu lugar, ser como você. Como diz o ditado turco: cada um com seu tapete! O fato é que não há no mundo duas pessoas com trajetórias de vida idênticas. Cada novo ser tem sua própria história, e ela vai se revelando aos poucos, dia após dia, e o nosso desafio é entender e enfrentar aquilo que a vida coloca à nossa porta. E essa é a minha história, que só eu vou viver. Ela é única. Não adianta buscar outra igual, com soluções prontas e finais revelados.

Por mais que as estatísticas formem grandes grupos, se individualizarmos as pessoas veremos que nenhuma delas é igual. Todas são minoria, como eu estou sendo agora, assim como quem perde o pai, a mãe, como quem se queima, como quem ganha uma cicatriz para sempre, tem sequelas de um acidente, como quem é abandonado por seu grande amor, ou perde um filho, ou nunca consegue comprar uma casa própria, ou não pode comer açúcar, ou não pode ver ou falar, ou qualquer outra coisa. No fundo, no fundo, somos todos minoria de alguma forma. E hoje só me resta acreditar que nós, minorias, somos a grande maioria =)

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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Paranoias de internet: joguei tudo no Google e surtei

Quem nunca buscou no Google as explicações para um sintoma ou um laudo médico que jogue o primeiro mouse! Fazer isso é um comportamento natural de quem tem acesso à web. E nem poderia ser diferente, pois a internet está aí, cheia de maravilhas e encantos. Mas também traz perigos. Cabe a nós saber usá-la e aos médicos aprender a lidar com nosso acesso à informação (e à desinformação) online. Quando o assunto é gravidez, então, esse tipo de busca é quase incessante. As grávidas querem saber se o BHCG está normal, se o bebê já tem cotovelo, unha e cabelo, o que significa cada sigla do exame de sangue, porque sentem mais alguns sintomas do que outros, qual o melhor carrinho de bebê, se pode tomar chá verde, fazer exercício fisco, drenagem linfática, pilates ou abdominal, quais os riscos da toxoplasmose, porque o bebê ainda não mexeu e centenas de milhares de outros assuntos que passam pela cabeça de qualquer futura mamãe, principalmente as de primeira viagem. De maneira menos entusiasmada, o mesmo fenômeno ocorre com as gestantes que perdem seus bebês ou recebem diagnósticos difíceis sobre sua saúde ou a do feto.

Foi assim comigo. Como contei em outro post, antes de saber que meu neném não estava vivo senti que poderia haver algo errado. Antes mesmo da ecografia que revelou o óbito, eu já sabia o que era aborto retido, o que algumas mulheres sofreram com isso, como foram tratadas, se doeu ou não e tudo mais. Meu médico até se assustou quando perguntei a respeito numa consulta de rotina, durante o pré-natal. Eu não tinha motivos para estar preocupada com aquilo, mas estava, e já tinha lido tudo no Google. Dias depois, lá estava o meu diagnóstico: aborto retido na décima semana. Até parece que eu sabia! E, se eu já estava fuçando na internet sobre essa situação, imaginem depois que passei a vivê-la.

Li de tudo um pouco. De portais científicos a blogues pessoais e sites picaretas. Li sobre as causas de aborto, sobre o Cytotec, sobre a curetagem, sobre tudo que pode e não pode acontecer, enfim, casos de todo tipo. Vi e ouvi relatos tranquilos e outros assustadores! Curetagens mal-feitas, neoplasias gestacionais, infecções no útero, tudo de ruim que se pode imaginar passou pela tela do meu computador e entrou na minha cabeça. Depois disso, para mim, qualquer sintominha de nada poderia ser algo grave. É como se tudo aquilo que li estivesse acontecendo dentro de mim, e ao mesmo tempo.

Quando fiz a primeira ecografia depois da curetagem e soube que ainda tinha restos ovulares, meu mundo caiu. A dor da perda de repente foi sendo substituída pelo medo do tratamento. O medo do tratamento foi substituído pelo medo de doenças mais sérias. O medo das doenças virou medo de perder o útero. Comecei a pensar que deveria ter tentado engravidar aos vinte e poucos, que aos 31 as chances e o tempo eram menores, que se acontecia com outras mulheres porque não aconteceria comigo, que era um castigo divino... só baboseira! E, quando dei por mim, estava conversando com meu marido sobre como seria nossa vida sem filhos em pleno almoço de domingo!

Na consulta seguinte pedi ajuda ao meu médico. Aquela consulta foi mais psicológica do que obstétrica. Ele desmitificou muitas coisas que eu havia lido, esclareceu outras e acalmou meu coração - não completamente, porque acho que isso é impossível, mas muito. Eu compreendi, ali, que estava fazendo mal a mim mesma, sendo um obstáculo a mais para a superação do problema. Não que tudo que li e ouvi fosse mentira, mas eu não precisava daquele tanto de informação, daquele tanto de dor a mais. A preocupação excessiva com o que vai acontecer amanhã não ajuda a resolver o que está acontecendo agora, pelo contrário. Temos que enfrentar uma coisa de cada vez e, naquela hora, eu era uma mulher que perdeu seu bebê e estava em tratamento para limpar o útero. Nada mais e nada menos.

Sei que esse post parece incoerente, já que surtei ao ler histórias na internet e agora estou aqui contando a minha. Espero, sinceramente, que ninguém se deixe enlouquecer pelos meus relatos. Cada caso é um caso e esse aqui é só o meu. O fato é que não são as histórias em si que nos fazem mal e, sim, a forma como as absorvemos (se é que temos que absorvê-las). Eu não deixei de consultar a internet, apenas parei de me torturar com ela. Tentei esvaziar minha mente de tudo aquilo de ruim que eu havia absorvido. Tentei ficar mais leve. É um processo do dia-a-dia, que ainda está em andamento e avançando bem. Enfim, acho que é um exercício que vale para tudo na vida, a vida toda. Pensar positivo e ter esperança sempre!

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ecografia frustrante após a curetagem


Depois que fiz a curetagem, que não tinha mais o bebê dentro de mim e fui voltando à vida normal, comecei a pensar em todas as coisas que uma gravidez envolve. Antes da gestação eu achava que só havia coisas lindas relacionadas à concepção de um filho. Mas durante todo o processo do aborto vi que pode haver sofrimento, perdas, desafios, problemas. Enfim, como tudo na vida real. Ter filhos não é um conto de fadas, tem suas dificuldades, e algumas de nós aprendem isso já na gravidez. Após a curetagem, fiquei 15 dias tomando Methergin, para ajudar a limpar o útero. Nesse meio tempo, ouvi e li todo tipo de histórias, sobre mulheres que enfrentaram dificuldades também nesse processo pós-curetagem. Entre elas, algumas sobre doenças ligadas à gravidez ou ao aborto que eu nunca tinha ouvido falar, como a tal Doença Trofoblástica Gestacional (conhecida como “mola”), que ataca o útero como uma espécie de tumor e eventualmente precisa ser tratada com quimioterapia. Antes eu nunca tivesse lido sobre isso, pois as informações viraram um fantasma na minha cabeça.

Mesmo assim, após a curetagem, tudo estava correndo como o médico previu. Eu estava tendo sangramento e eliminando alguns coágulos, resíduos da gravidez. Estava limpando o útero. Doía, eu tinha muitas cólicas, mas ficava feliz ao mesmo tempo, pois os restos ovulares estavam saindo. E quanto antes saíssem, antes eu teria alta. E, olha, saiu coisa de dentro de mim! Aos poucos fui perdendo os sintomas da gravidez, meus seios estavam desinchando e eu fui me convencendo de que o ciclo do aborto estava se encerrando. Porém, o fantasminha da “mola” continuava ali. Eu só me tranquilizaria quando a ecografia mostrasse meu útero limpinho, pronto para outra, sem nenhum resíduo ou susto de qualquer tipo. Mas, não foi bem assim.

Já no primeiro minuto da ecografia o médico mostrou que o útero não estava limpo. Além dos resíduos, havia a presença de um tal “vaso nutridor”. Até hoje não sei exatamente do que se trata, mas entendi que é ele que mantêm os restos ovulares ali, bem presos. “Acho que o Methergin não consegue tirar isso sozinho”, disse o ecografista. Surtei! Na hora lembrei da colega que teve a tal “mola”. Ela havia dito que o diagnóstico veio a partir de uma ecografia pós-curetagem, que mostrou que o útero dela não estava limpo e blá, blá, blá. Meu marido estava comigo, também conhecia a história, e surtou junto. Fomos embora chorando, sem saber o que pensar (o ecografista não quis detalhar o laudo do meu exame, já que é papel do médico fazer isso). Mas tudo indicava que, no mínimo, uma nova curetagem teria que ser feita. E isso foi muito frustrante, especialmente porque, com medo de uma futura insuficiência istmo cervical, tentei evitar a curetagem e convivi 15 dias com o neném sem vida dentro de mim. Ainda para evitar uma curetagem, me submeti a seis comprimidos de Cytotec. E lá estava eu, caminhando para uma segunda cirurgia desse tipo. Mas isso já nem me parecia tão sério, eu pensava mesmo era na “mola”. Eu não estava com raiva do destino, e sim com medo dele.

No dia seguinte, ao levar a ecografia para o obstetra, eu disse: “Hoje o senhor vai ter que cuidar da minha cabeça, não do meu corpo, porque eu surtei!”. Primeiramente ele me mandou parar de ler ou ouvir histórias por aí! Então ele me explicou que a tal “mola” existe, sim, mas que meu caso não apresentava sintomas dela. Pediu que eu me acalmasse, disse que o caso era “leve” e que tudo daria certo. Contou que não queria me mandar imediatamente para uma nova curetagem e propôs um tratamento alternativo, medicamentoso: uma alta dosagem de hormônio, que dali 15 dias causaria uma sangramento mais intenso, que talvez limpasse o útero. “Costuma funcionar”, disse o médico. Eu topei, e comecei a tomar os comprimidos. Mais uma etapa vinha pela frente. O ciclo pós-aborto não estava encerrado, não tinha data para terminar e eu precisava colocar minha cabeça no lugar...