quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Paranoias de internet: joguei tudo no Google e surtei

Quem nunca buscou no Google as explicações para um sintoma ou um laudo médico que jogue o primeiro mouse! Fazer isso é um comportamento natural de quem tem acesso à web. E nem poderia ser diferente, pois a internet está aí, cheia de maravilhas e encantos. Mas também traz perigos. Cabe a nós saber usá-la e aos médicos aprender a lidar com nosso acesso à informação (e à desinformação) online. Quando o assunto é gravidez, então, esse tipo de busca é quase incessante. As grávidas querem saber se o BHCG está normal, se o bebê já tem cotovelo, unha e cabelo, o que significa cada sigla do exame de sangue, porque sentem mais alguns sintomas do que outros, qual o melhor carrinho de bebê, se pode tomar chá verde, fazer exercício fisco, drenagem linfática, pilates ou abdominal, quais os riscos da toxoplasmose, porque o bebê ainda não mexeu e centenas de milhares de outros assuntos que passam pela cabeça de qualquer futura mamãe, principalmente as de primeira viagem. De maneira menos entusiasmada, o mesmo fenômeno ocorre com as gestantes que perdem seus bebês ou recebem diagnósticos difíceis sobre sua saúde ou a do feto.

Foi assim comigo. Como contei em outro post, antes de saber que meu neném não estava vivo senti que poderia haver algo errado. Antes mesmo da ecografia que revelou o óbito, eu já sabia o que era aborto retido, o que algumas mulheres sofreram com isso, como foram tratadas, se doeu ou não e tudo mais. Meu médico até se assustou quando perguntei a respeito numa consulta de rotina, durante o pré-natal. Eu não tinha motivos para estar preocupada com aquilo, mas estava, e já tinha lido tudo no Google. Dias depois, lá estava o meu diagnóstico: aborto retido na décima semana. Até parece que eu sabia! E, se eu já estava fuçando na internet sobre essa situação, imaginem depois que passei a vivê-la.

Li de tudo um pouco. De portais científicos a blogues pessoais e sites picaretas. Li sobre as causas de aborto, sobre o Cytotec, sobre a curetagem, sobre tudo que pode e não pode acontecer, enfim, casos de todo tipo. Vi e ouvi relatos tranquilos e outros assustadores! Curetagens mal-feitas, neoplasias gestacionais, infecções no útero, tudo de ruim que se pode imaginar passou pela tela do meu computador e entrou na minha cabeça. Depois disso, para mim, qualquer sintominha de nada poderia ser algo grave. É como se tudo aquilo que li estivesse acontecendo dentro de mim, e ao mesmo tempo.

Quando fiz a primeira ecografia depois da curetagem e soube que ainda tinha restos ovulares, meu mundo caiu. A dor da perda de repente foi sendo substituída pelo medo do tratamento. O medo do tratamento foi substituído pelo medo de doenças mais sérias. O medo das doenças virou medo de perder o útero. Comecei a pensar que deveria ter tentado engravidar aos vinte e poucos, que aos 31 as chances e o tempo eram menores, que se acontecia com outras mulheres porque não aconteceria comigo, que era um castigo divino... só baboseira! E, quando dei por mim, estava conversando com meu marido sobre como seria nossa vida sem filhos em pleno almoço de domingo!

Na consulta seguinte pedi ajuda ao meu médico. Aquela consulta foi mais psicológica do que obstétrica. Ele desmitificou muitas coisas que eu havia lido, esclareceu outras e acalmou meu coração - não completamente, porque acho que isso é impossível, mas muito. Eu compreendi, ali, que estava fazendo mal a mim mesma, sendo um obstáculo a mais para a superação do problema. Não que tudo que li e ouvi fosse mentira, mas eu não precisava daquele tanto de informação, daquele tanto de dor a mais. A preocupação excessiva com o que vai acontecer amanhã não ajuda a resolver o que está acontecendo agora, pelo contrário. Temos que enfrentar uma coisa de cada vez e, naquela hora, eu era uma mulher que perdeu seu bebê e estava em tratamento para limpar o útero. Nada mais e nada menos.

Sei que esse post parece incoerente, já que surtei ao ler histórias na internet e agora estou aqui contando a minha. Espero, sinceramente, que ninguém se deixe enlouquecer pelos meus relatos. Cada caso é um caso e esse aqui é só o meu. O fato é que não são as histórias em si que nos fazem mal e, sim, a forma como as absorvemos (se é que temos que absorvê-las). Eu não deixei de consultar a internet, apenas parei de me torturar com ela. Tentei esvaziar minha mente de tudo aquilo de ruim que eu havia absorvido. Tentei ficar mais leve. É um processo do dia-a-dia, que ainda está em andamento e avançando bem. Enfim, acho que é um exercício que vale para tudo na vida, a vida toda. Pensar positivo e ter esperança sempre!

Leia também: Estatísticas à parte... a minoria é a maioria!

7 comentários:

  1. Estou gostando muito de seu blog.... esta me ajudando e e me identificando... tb tenho 31 anos... tb tenho as mesmas duvidas, mesmos medos....

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    1. Que bom que nos encontramos, então! Assim, uma pode ajudar a outra. Esse é o sentido do blog e fico feliz quando ele dá certo. Seja sempre bem-vinda. Também aprendo muito com as pessoas iluminadas que passam por aqui. Beijos

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  2. Estava aqui surtando com as coisas que encontramos na net e encontrei teu blog que esta me ajudando bastante... Tive um problema semelhante ao seu mas no meu caso eu optei pela curetagem (pois eh meu segundo aborto) entao solicitei estudo do feto para tentar descobrir se temos alguma coisa errada.. Uma semana depois do procedimento dores horriveis e nada se sangramento, fiz uma US que mostrou restos ovulares, comecei a tomar antibioticos e o medico me deu 4 comprimidos de cytotec para introduzir na vagina e esperar o corpo expelir caso contrario farei outra cirurgia... Eh dificel nao surtar nesta hora...

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    1. Querida, como você está? Os restos ovulares saíram?
      Estou torcendo por ti.
      Mande notícias.
      Bjs

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  3. Como a vida das pessoas são tão semelhantes e tão distintas ao mesmo tempo. Encontrei seu blog justamente procurando sobre abosto retido, coisa que o GO nem sequer cogitou. Também já passei dos 30 e, depois de mais de um ano de expectativas, quando já preparava a cabeça que só poderia engravidar, se conseguisse, à base de muito tratamento, o positivo apareceu. O engraçado é que parece que quando a gente não sabe fica tudo normal e, depois que descobre, tudo fica tão frágil.

    Descobri na terça de manhã, dia 25/03, e na quinta de madrugada, tive um leve sangramento que ainda fica sujando levemente, num tom caramelo. O médico plantonista receitou utrogestan e dactil OB, mas o meu GO, que consultei depois, disse que ainda é muito cedo para tirar qualquer tipo de conclusão e usar essas medicações. Explicou que 10% das gravidezes, principalmente a primeira, vira aborto e disse para esperar a primeira US, daqui à 10 dias, quando eu tiver no início da 7ª semana, para ver se tá tudo certo, se tem batimento cardíaco.

    Aí começam todas as paranóias, como você falou. Qualquer sintoma é sinal de preocupação. Passei a virar a internet de cabeça pra baixo e a montanha russa de emoções ficava mais intenso. Realmente, muita informação é válida, mas muito mais é descartável (não por ser mentira, mas por não ser necessário, no momento). Aquele misto de pessimismo e pressentimento também me invadiu a alma. O medo do tempo do relógio biológico parecer estar se esgotando e que nunca mais poderemos ter essa chance novamente, quase esmaga o coração.

    Precisamos batalhar muito para por a cabeça no lugar. Agora estou entrando numa fase de acalmar mais o coração, e aceitar os fatos de braços abertos. Pode ser uma ótima notícia, de que está tudo bem com o embrião ou que, realmente, o pior aconteceu. Mas cada sentimento no seu devido momento. Nada de sofrimentos antecipados (pelo menos tentando!!!).

    E ler seu blog hoje me ajudou muito nisso. Parei nesse post, por enquanto. Pelos títulos dos outros posts mais recentes sei que você passou ainda passou por muitos momentos ruins e que agora está num momento de felicidade. A vida é assim, né, passaremos por fases ruins e boas. E só o que podemos fazer é vivê-la da melhor maneira possível, aprendendo e crescendo nos momentos difíceis para curtir com plenitude os momentos maravilhosos!!! Boa sorte para nós nesse futuro que virá!!!

    Cristiane.

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  4. Oi, Mirela. Também tento me policiar quanto a este comportamento. Busquei reduzir um pouco o ímpeto de sair procurando cada palavra ou jargão novo na internet. Mas parar, a gente não para, né? Ainda bem que, em meio a tanta besteira na web, a gente acaba topando com coisas boas. No meu caso, topei com seu blog, pois é um relato sincero, de quem viveu cada situação, mas sem alarmismo. Às vezes a gente não tem coragem de confessar aos mais chegados, nem mesmo ao marido ou à nossa mãe ou à nossa melhor amiga, as nossas neuras de cada dia, principalmente quando essas pessoas, nem de perto, passaram por alguma situação parecida. Por isso, foi um alívio encontrar seu blog, e posso me sentir à vontade para expor algumas ideias, buscar consolo em outros relatos e podendo também dar consolo a alguém com minha recente vivência. Abraços a todas por aqui!

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    1. Renata, obrigada por escrever. Quando criei o blog foi exatamente com esse sentido: poder desabafar e compartilhar coisas que nem sempre as pessoas ao meu redor entenderiam - ou teriam tempo para ouvir. hehe
      Espero que estejas bem!
      Beijão

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