domingo, 24 de fevereiro de 2013

Terceira ecografia frustrante: nódulo polipóide miometrial

Não sei mais o que pensar, nem o que sentir. Continuo perseverante, mas me sinto nadando num mar agitado, sendo empurrada para baixo pela arrebentação e tomando uma nova onda na cabeça cada vez que subo à superfície. Sou boa nadadora, eu sei, mas nunca enfrentei um mar assim... Eu engravidei, abortei, o aborto ficou retido, meu organismo não expeliu, o Cytotec também não serviu, tive que curetar, fiquei com restos ovulares, meu corpo não conseguiu eliminá-los, tratamentos com remédios também não funcionaram, os restos continuaram lá e, agora, três ecografias e três meses depois da curetagem, quando achei que poderia ter "alta" disso tudo, o laudo foi: nódulo polipóide miometrial! Fato novo na parada, não sei se causado pelos restos ovulares ou se não têm nada a ver. Por causa dele minha menstruação está tão longa (oito dias) e sinto cólicas homéricas.

Mais quantos capítulos a minha novela vai ter? Será que terei um final feliz? Tendo a acreditar que sim, afinal, por telefone meu médico já adiantou que essas coisas de nódulo polipóide, pólipo, são muito comuns e que as chances de malignidade são baixíssimas (menos de 1%). Mas nessa altura do campeonato, para quem vem caindo em tantas exceções, nenhuma estatística tem efeito calmante. Bem... ele me explicou que terei que fazer uma histeroscopia cirúrgica para retirar o nódulo e que o procedimento é simples e rápido. Deve me indicar um especialista, que só faz esse tipo de operação.

Tenho uma grande lista de dúvidas. Uma, como já disse, é se os restos ovulares "viraram" o nódulo. Outra é se nódulo polipóide e pólipo são a mesma coisa. Se forem, ótimo, porque pelo que li na internet os pólipos são mesmo comuns e fáceis de se tratar. Mas, óbvio, li muita coisa ruim também. Claro que tive que dar aquela brecada na curiosidade pois, como sempre digo aqui, jogar as coisas no Google é caminho certo para o desespero. Na próxima quarta-feira vou ao médico e ele, sim, vai tirar corretamente todas as minhas dúvidas. Até lá, preciso manter a calma e, principalmente, aquela nova amiga que foi tema do meu post anterior: a paciência.

A parte boa da ecografia é que o fantasma chamado neoplasia trofoblástica gestacional, que eu mesma criei por ler coisas do Google, parece que está descartado. Meu útero já está em seu tamanho normal e não tenho mais sintomas de gravidez. Enfim, lá vou eu com o meu tapete, em mais essa etapa. Sei que já fui mais serena nos meus posts, mas ainda não consegui refletir sobre essa novidade para traduzi-la em palavras que não sejam essas, aflitas. Espero em breve voltar aqui mais calma. Para isso, tenho ouvido uma música que tocou na rádio quando eu ia para a clínica de ecografias, na última sexta-feira, e me fez chorar antes mesmo de fazer o exame. Vocês conhecem, ela diz assim:

"Veja. Não diga que a canção está perdida. Tenha fé em deus, tenha fé na vida. Tente outra vez.
Beba. Pois a água viva ainda tá na fonte. Você tem dois pés para cruzar a ponte. Nada acabou.
Tente. Levante sua mão sedenta e recomece a andar. Não pense que a cabeça aguenta se você parar.
Não! Não! Não! Não! Há uma voz que canta, uma voz que dança, uma voz que gira, bailando no ar.
Queira. Basta ser sincero e desejar profundo. Você será capaz de sacudir o mundo. Vai! Tente outra vez.
Tente. E não diga que a vitória está perdida, se é de batalhas que se vive a vida. Tente outra vez!" (Raul Seixas).

É piegas, eu sei. Mas pensei em mim, pensei em vocês, e chorei.

Leia também: À espera da histeroscopia cirúrgica.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Segunda ecografia frustrante e as mil lições de paciência

Perder o bebê me trouxe muitas lições, assim como ao meu marido. Aprendemos principalmente que, por mais que planejemos tudo direitinho, não estamos no controle. Mas nenhuma lição está sendo tão dura quanto a da paciência! Após o diagnóstico do aborto retido, não bastassem os 15 dias esperando o organismo expelir e mais os 15 dias tomando Methergin após a curetagem, uma ecografia mostrou que eu ainda tinha restos ovulares. Fui para a consulta seguinte já me preparando para uma nova cirurgia. E nem medo disso eu sentia pois, depois de ter enchido a minha cabeça sobre a tal neoplasia trofoblástica gestacional, eu tinha perdido a paciência e tudo que queria era acabar com essa história de uma vez, fosse como fosse.

Porém, meu médico tratou uma segunda curetagem como plano B. Não queria fazer a cirurgia novamente em tão pouco tempo. Então me propôs um tratamento alternativo, com uso de hormônios. Em resumo, durante sete dias tomei uma bomba hormonal (equivalente a três vezes a quantidade de anticoncepcional que uma mulher consome normalmente), com o objetivo de induzir um sangramento intenso que pudesse trazer consigo os restos ovulares, vencendo o "vaso nutridor" que os segurava fortemente no meu útero. "Se prepara, porque vai doer e virá muito sangue", alertou o médico. Mas o maior desconforto, mesmo, foi causado pelo baque hormonal. Inchei, vomitei, tive alterações de humor, essas coisas. Aí foram mais dez dias de espera (haja lição de paciência!), até que veio o grande sangramento, nem tão assustador quanto eu estava esperando. Cinco dias depois, por orientação médica, voltei a tomar o anticoncepcional normalmente. "Anticoncepcional nessa altura? Mas eu quero engravidar de novo quando tudo isso acabar!", pensei. Mas antes que eu questionasse, o médico explicou: "Seu útero precisa descansar". Eu eu entendi: "Você definitivamente vai ter que aprender a ter paciência com a vida". E assim está sendo. Na marra, estou aprendendo.

O combinado com o médico era de que, alguns dias após "a grande menstruação", eu faria uma nova ecografia para sabermos se o tratamento funcionou. E nesses dias exercitei minha mente. Eu precisava aprender a seguir a vida, ser feliz e esperar ao mesmo tempo. Mas não é nada fácil levar as outras coisas (atividades profissionais, encontros com os amigos, casamentos, festinhas, sorrisos) como se você não estivesse morrendo de pressa para que aquele tempo passasse logo. Eu tentei (e incrivelmente consegui) me manter otimista, até que chegou o dia da esperada segunda ecografia...

Na hora H, decidi que não queria que meu marido fosse comigo. Sim, eu gosto de dividir as coisas com ele, mas ele também estava ansioso e sua presença me deixava ainda mais nervosa. Não sei ao certo até agora, mas talvez haja aí um sentimento de culpa, meu, por estarmos passando por tudo isso. É idiotice, eu sei, mas talvez seja real. Não sei dizer. Enfim, fui sozinha e pelo caminho tudo que pedi foi que eu não saísse mal daquela clínica. Que, independentemente do resultado, eu saísse bem, forte, pronta para o que der e vier. E assim foi: o tratamento não foi suficiente, os restos ovulares haviam diminuído, mas um pequeno resíduo continuava ali, seguro pelo incansável "vaso nutridor". A parte boa é que o meu mantra do caminho teve efeito. Eu não me abalei e não enchi o ecografista de perguntas desesperadas. Fiz apenas uma: "Dr., meu médico está de férias, volta em 20 dias, e não sei se devo comunicá-lo desse resultado ou aguardar seu retorno". Ele respondeu: "Pode aguardar. Não há emergência no seu caso". 20 dias! Dá para acreditar em mais essa lição de paciência?! Prometi a mim mesma que não atrapalharia as férias do médico, que viveria mais esse período feliz e seguindo a rotina e que, principalmente, não fuçaria na internet sobre esse tipo de caso. Tirando essa parte sobre fuçar na internet, acho que consegui cumprir bem a promessa.

Assim que o doutor voltou das férias fui ao consultório, certa de que dessa vez ele marcaria a curetagem. Porém, entre o dia da ecografia e o da consulta eu havia menstruado e ele achou por bem repetir o exame antes de agendar o procedimento (vai que dessa vez o sangramento limpou tudo!). Mas, quando fui marcar o exame, me disseram que o melhor era fazê-lo entre o quinto e o oitavo dia após a menstruação. Isso já tinha passado e, sim, acreditem, eu tive que esperar mais 15 dias até a próxima menstruação - que foi intensa, longa e muito doída. E aqui passo a contar minha história em tempo real. Os posts anteriores foram sempre escritos tempos depois do ocorrido, mas agora escrevo a vocês lá de dentro do olho do furação: amanhã, 22 de fevereiro, farei a minha terceira ecografia. E, confesso, minha sensação é de que terei que enfrentar mais alguma grande lição de paciência. Provavelmente por causa das fortes cólicas da última menstruação, sinto que esse ciclo ainda não se encerrou...

Leia também: Terceira ecografia frustrante: nódulo polipóide miometrial

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Estatísticas à parte... a minoria é a maioria!

Se há uma coisa que eu sempre pude dizer com orgulho é que tenho uma vida de sonhos. Nunca passei necessidade, tive acesso aos estudos, trabalho na profissão que escolhi, já consegui realizar muitas coisas que desejava, me sinto imensamente amada pela minha família, tenho amigos incríveis, tenho ótima saúde, encontrei um grande amor, enfim, levo um vidão, daqueles que não se pode reclamar. Por isso, creio, foi tão estranho experimentar, pela primeira vez, a sensação de ser uma exceção, de não conseguir viver a gravidez, ou mesmo o aborto natural, como a maioria vive. Eu entrei para a minoria que perde o bebê; para a minoria que sofre aborto retido; para a minoria que não reage bem ao Cytotec; para a minoria que continua com restos ovulares depois da curetagem; e para a minoria que passa meses tentando eliminar esses restos com tratamentos.

Quando eu perdi o bebê, comecei a observar as gestantes felizes na rua e sentir um forte desejo de ter sido como elas (acho que isso é normal). Três meses depois, qualquer mulher que me contasse que perdeu seu bebê mas teve uma recuperação rápida após o aborto já me parecia logo um ser de sorte. Como eu queria que fosse assim comigo! Só isso - perder, mas ter o útero limpinho logo depois - já me faria satisfeita naquele momento. É estranha a sensação de não ter, ou não conseguir realizar, algo tão comum para a maioria. Mas mesmo assim não pude reclamar, porque estava sentindo isso na pele pela primeira vez aos 31 anos, enquanto muitos convivem com a sensação a vida inteira, em várias outras coisas, por questões sociais, raciais, físicas, de orientação sexual etc.

Até que um dia fui ao médico e lá encontrei duas gestantes felizes, com seus barrigões. Uma, grávida de oito meses, contou que estava preocupada pois seu líquido amniótico estava reduzido. A outra tinha na mão várias caixas de injeções que, não sei ao certo, mas parece que eram para ajudar a segurar o bebê. Então me lembrei de uma moça que tomou hormônios na gravidez, de outra cujo bebê nasceu com um probleminha de formação, de outra que teve câncer, de outra que nunca conseguiu engravidar e ainda de outra que nem sabe se consegue porque simplesmente não tem sorte no amor. E foi aí que me dei conta de que, de longe, todo mundo parece mais feliz, com menos problemas do que nós. Mas de perto todos têm suas intercorrências na vida. Talvez até estejam sendo bem sucedidos em algo que você não foi, mas podem estar sofrendo duramente por problemas que você não tem e até prefeririam estar no seu lugar, ser como você. Como diz o ditado turco: cada um com seu tapete! O fato é que não há no mundo duas pessoas com trajetórias de vida idênticas. Cada novo ser tem sua própria história, e ela vai se revelando aos poucos, dia após dia, e o nosso desafio é entender e enfrentar aquilo que a vida coloca à nossa porta. E essa é a minha história, que só eu vou viver. Ela é única. Não adianta buscar outra igual, com soluções prontas e finais revelados.

Por mais que as estatísticas formem grandes grupos, se individualizarmos as pessoas veremos que nenhuma delas é igual. Todas são minoria, como eu estou sendo agora, assim como quem perde o pai, a mãe, como quem se queima, como quem ganha uma cicatriz para sempre, tem sequelas de um acidente, como quem é abandonado por seu grande amor, ou perde um filho, ou nunca consegue comprar uma casa própria, ou não pode comer açúcar, ou não pode ver ou falar, ou qualquer outra coisa. No fundo, no fundo, somos todos minoria de alguma forma. E hoje só me resta acreditar que nós, minorias, somos a grande maioria =)

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