domingo, 17 de fevereiro de 2013

Estatísticas à parte... a minoria é a maioria!

Se há uma coisa que eu sempre pude dizer com orgulho é que tenho uma vida de sonhos. Nunca passei necessidade, tive acesso aos estudos, trabalho na profissão que escolhi, já consegui realizar muitas coisas que desejava, me sinto imensamente amada pela minha família, tenho amigos incríveis, tenho ótima saúde, encontrei um grande amor, enfim, levo um vidão, daqueles que não se pode reclamar. Por isso, creio, foi tão estranho experimentar, pela primeira vez, a sensação de ser uma exceção, de não conseguir viver a gravidez, ou mesmo o aborto natural, como a maioria vive. Eu entrei para a minoria que perde o bebê; para a minoria que sofre aborto retido; para a minoria que não reage bem ao Cytotec; para a minoria que continua com restos ovulares depois da curetagem; e para a minoria que passa meses tentando eliminar esses restos com tratamentos.

Quando eu perdi o bebê, comecei a observar as gestantes felizes na rua e sentir um forte desejo de ter sido como elas (acho que isso é normal). Três meses depois, qualquer mulher que me contasse que perdeu seu bebê mas teve uma recuperação rápida após o aborto já me parecia logo um ser de sorte. Como eu queria que fosse assim comigo! Só isso - perder, mas ter o útero limpinho logo depois - já me faria satisfeita naquele momento. É estranha a sensação de não ter, ou não conseguir realizar, algo tão comum para a maioria. Mas mesmo assim não pude reclamar, porque estava sentindo isso na pele pela primeira vez aos 31 anos, enquanto muitos convivem com a sensação a vida inteira, em várias outras coisas, por questões sociais, raciais, físicas, de orientação sexual etc.

Até que um dia fui ao médico e lá encontrei duas gestantes felizes, com seus barrigões. Uma, grávida de oito meses, contou que estava preocupada pois seu líquido amniótico estava reduzido. A outra tinha na mão várias caixas de injeções que, não sei ao certo, mas parece que eram para ajudar a segurar o bebê. Então me lembrei de uma moça que tomou hormônios na gravidez, de outra cujo bebê nasceu com um probleminha de formação, de outra que teve câncer, de outra que nunca conseguiu engravidar e ainda de outra que nem sabe se consegue porque simplesmente não tem sorte no amor. E foi aí que me dei conta de que, de longe, todo mundo parece mais feliz, com menos problemas do que nós. Mas de perto todos têm suas intercorrências na vida. Talvez até estejam sendo bem sucedidos em algo que você não foi, mas podem estar sofrendo duramente por problemas que você não tem e até prefeririam estar no seu lugar, ser como você. Como diz o ditado turco: cada um com seu tapete! O fato é que não há no mundo duas pessoas com trajetórias de vida idênticas. Cada novo ser tem sua própria história, e ela vai se revelando aos poucos, dia após dia, e o nosso desafio é entender e enfrentar aquilo que a vida coloca à nossa porta. E essa é a minha história, que só eu vou viver. Ela é única. Não adianta buscar outra igual, com soluções prontas e finais revelados.

Por mais que as estatísticas formem grandes grupos, se individualizarmos as pessoas veremos que nenhuma delas é igual. Todas são minoria, como eu estou sendo agora, assim como quem perde o pai, a mãe, como quem se queima, como quem ganha uma cicatriz para sempre, tem sequelas de um acidente, como quem é abandonado por seu grande amor, ou perde um filho, ou nunca consegue comprar uma casa própria, ou não pode comer açúcar, ou não pode ver ou falar, ou qualquer outra coisa. No fundo, no fundo, somos todos minoria de alguma forma. E hoje só me resta acreditar que nós, minorias, somos a grande maioria =)

Leia também: Segunda ecografia frustrante e as mil lições de paciência

11 comentários:

  1. Que bom que atualizou! Li seu blog semana passada na minha paranóia de busca por informação e me perguntava se estaria tudo bem! É estranho, mas estou aqui mandando boas vibrações a vc, sem te conhecer.
    Descobri há 15 dias que o meu sonho de ser mãe seria adiado. Estou na angústia para que tudo se resolva, estou aguardando a expulsão e embora o médico me passe tranquilidade que esse é o melhor procedimento, e mais importante eu sinto que devo deixar a natureza agir, a insegurança de cair novamente na minoria que não expulsa, etc...me gera momentos extremamente difíceis. Me identifico demais com suas ideias, e saiba que tem me ajudado muito. Obrigada!!!
    Vamos nos nossos tapetes q com certeza é o que nos cabe.

    ResponderExcluir
  2. By the way, espero que tenha intenção de continuar com o blog com diferentes assuntos também, pois escreve e se expressa muito bem!

    ResponderExcluir
  3. Olá, "Anônima"! Fiquei muito feliz em saber que meus posts estão te ajudando e, mais ainda, em receber suas boas vibrações (elas estão chegando aqui, tenha certeza). Também passei a trazer você em pensamento, então já somos o começo de uma rede de energias positivas!
    Estou preparando o próximo post sobre o meu caso (publicarei em breve). Adianto que estou bem, porém ainda em tratamento.
    Sobre sua escolha em esperar a natureza agir, saiba que senti o mesmo. E, ainda que meu aborto não tenha culminado numa expulsão natural, nunca me arrependi de ter dado chance à natureza. Há um detalhe que não contei no blog, mas agora acho importante: quando meu médico quis intervir, lamentei pela natureza não ter agido ao meu tempo e disse a uma amiga que queria apenas um sinal de que já era hora. Aí, quando me internei, fiquei um tempo no quarto esperando o médico vir administrar o Cytotec, e nesse período senti cólicas. Logo veio um corrimento acastanhado, algo novo até então. A natureza estava começando a agir! Mas acho que não era nada que jusficasse interromper o que foi planejado (afinal, poderia levar mais algumas semanas para que a expulsão ocorresse naturalmente). Interpretei aquilo como um sinal de que eu poderia seguir adiante com tranquilidade, que já era hora de nos separarmos. Espero que você encontre a mesma tranquilidade em sinais que a vida te dará, dessa ou de outra natureza.
    Espero também que você esteja disposta a voltar aqui e contar mais sobre sua experiência (vou querer muito saber o que aconteceu, pois estou torcendo por você). E que volte, claro, para continuar como leitora do blog, pois é muito bem-vinda =)
    Beijos e, de novo, obrigada!

    ResponderExcluir
  4. Oi Mirella,
    Hoje foi o dia da minha descoberta fatídica: há +ou- 5 dias o coração de meu bebê parou de bater. Temos condições de vida muito semelhantes, e formas de pensar que se sintonizam. Acho que foi só uma questão de tempo para que você escrevesse esse blog antes de mim, rsrsrsrs. Brincadeiras a parte, quero te dizer que suas palavras foram bençãos de Deus para mim. Tentei dormir após o triste dia de hoje, mas relutante, vim à internet com esperança de aliviar o sofrimento. Por sorte e benção divina, seu site foi a 3a referência de leitura. E vou parar por aqui, não pretendo ir adiante com consultas malucas a informações, que são tão variadas e as vezes vem de fontes tão duvidosas...Liguei para minha médica mais cedo, e ela me aconselhou rapidamente a aguardar o sangramento. Tenho consulta marcada amanhã, vamos ver o que ela me fala. A primeira vontade que tive foi de fazer a curetagem, porque incomoda a idéia de conviver com algo sem vida no meu corpo. Mas após ler suas palavras percebi que pode não ser tão ruim assim...vamos ver como as coisas se processam. Não sei quanto à você, mas tenho uma fé muito sólida e acredito que Deus me ampara em todos os momentos, mesmo naqueles de adversidades (que não são causados por Ele, diga-se de passagem). Hoje me segurei muito em Deus nos momentos que a tristeza batia mais forte. A oração é um exercício de entrega, de resignação, e as vezes, diante de situações tão incertas, o melhor que temos a fazer é nos entregar nas mãos de alguém maior que nós (ou algo maior que nós, se você não acredita em Deus, mas acredita na vida, no destino, nos astros, em seja lá o que for). Obrigada pela coragem e lucidez com que você partilhou sua experiência. Fez (e fará) muita diferença na minha história, independente do que o futuro nos reserve. Um abraço, com votos de que tudo o que haja de melhor nessa vida se cumpra na sua jornada! Caroline Salles

    ResponderExcluir
  5. Oi Mirela, tem dias que estou melhor e dias que estou pior...Espero em breve ter passado por essa fase, assim como desejo isso a vc. Semana que vem farei nova US para ver como está e decidir como proceder. A curetagem me assusta muito, apesar de dizerem que é um procedimento simples. Mas dada a fragilidade da situação meus medos se potencializam. E estranhamente do lado oposto, tenho encontrado uma força que não imaginei que tivesse. Como boa pisiciana acho q é isso me define, sentimentos contraditórios!
    Ah, desculpe pelo anonima, mas não fico muito confortável quando exponho meus sentimentos, mesmo achando que isso ajuda muito, de novo...meio louca né? rsrs

    Oi Caroline, também estará nas minhas vibrações, concordo com vc que a fé é o que nos consola. Sou kardecista e o estudo da doutrina me tranquiliza bastante.
    Nos momentos de fraqueza me pego extremamente insegura com o futuro, com medo de tudo e só Deus me conforta.
    Novamente reforço a gratidão por poder compartilhar experiências que embora individuais me ajudam muito.
    Obrigada meninas!

    Gostaria de compartilhar algumas partes boas da minha situação, meu casamento se solidificou ainda mais, meu marido tem sido minha fortaleza, meu equilíbrio. Buscar o que de bom a situação me trouxe me ajuda muito.
    Outra coisa boa foi não ter sentido tristeza ao ver minhas amigas grávidas ou com filhos pequenos, que são aos montes. Eu sou apaixonada por criança, faço trabalho voluntário em abrigos, domingo agora estarei com muitas delas, 60!! Imaginem só! Bagunça geral!
    Fiquei um tico receosa, mas tenho certeza que será como antes, sensacional. Volto para contar para vcs!

    Beijos

    ResponderExcluir
  6. Caroline,
    Estou aqui, sentindo a sua dor. Os primeiros dias após a notícia são muito confusos, tristes, vazios. Fico imensamente feliz que tenhamos "nos encontrado" e que a minha experiência possa, de alguma forma, tornar a sua menos dolorosa. Desejo que sua consulta de hoje também tenha sido tranquilizadora e que a decisão sobre fazer a curetagem ou aguardar seja tomada com muita segurança e esperança.
    Se puder voltar ao blog e contar o andamento do seu caso, eu ficaria muito feliz, pois estou certa de que somos todas exemplos para todas.
    E obrigada por torcer por mim, especialmente no dia de hoje, que é de muita ansiedade, conforme contei no post publicado há pouco.
    Receba você também o meu apoio e minhas boas energias!
    Beijão

    ResponderExcluir
  7. "Anônima",
    Não se preocupe com o nome, eu compreendo totalmente. Já estamos expondo a nossa alma, não é obrigatório expormos a identidade. Aqui somos o que aqui somos, ok? Mas, para facilitar a conversa, você poderia escolher um codinome, para não ser confundida. Que tal?
    Sobre a curetagem, eu sei o que é sentir medo dela. Se sei!
    E sobre os sentimentos contraditórios que você descreveu, digo que de alguma forma gosto deles. São eles que nos ajudam a enxergar o que não víamos, a entender coisas que estão fora do nosso raciocínio. Enfim, são como as dúvidas que nos fazem buscar respostas, algo que nos coloca em movimento. Eu gosto de não ter certezas demais, mesmo quando isso dói.
    Falar das coisas boas que estamos vivendo, mesmo nesse momento difícil, é como um combustível que impulsiona. Obrigada por compartilhar isso! É uma alegria saber que você está conseguindo enxergar as coisas boas, que não está 100% coberta de tristeza. Que esse amor que sente no coração se multiplique sempre, no seu trabalho, no seu casamento, com as crianças do abrigo e mesmo na sua participação aqui, que já me fez bem e tenho certeza que fará a outras mais.
    Beijos e, de novo, obrigada por voltar aqui.
    Ps.: Já publiquei o novo post, com as novidades.

    ResponderExcluir
  8. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  9. Mirella. ..
    descobri seu blog por acaso e procurando maiores informações sobre o tal aborto retido. Vou compartilhar com vc minha história, talvez isso me alivie um pouco o coracao nesse momento.
    Assim como vc tenho uma vida de conto de fadas, nunca me faltou nada.. tenho estudo, bom emprego, familia perfeita, situação financeira estavel...casei com meu primeiro e único namorado.. um marido exemplar, companheiro em todas as horas.
    Ha um tempo atras antes de sequer pensar em gravidez, descobri que estava com ovários policisticos e que talvez tivesse certa dificuldade para engravidar. Pensei.. sempre fui muito mimada, tive tudo que quis. .. talvez essa seja a hora de lutar e não ter tao fácil algo que quero. Pois bem, quando pensei em ser mãe e tirei o anticoncepcional engravidei logo de cara... no segundo ciclo sem eu ja estava gravida. Deus havia sido generoso comigo novamente. Eu nem esperava estar gravida e nem estava planejando para este momento, achei mesmo que demoraria um pouco.. embora com medo do novo estava completamente feliz e realizada.
    assim que descobri a gravidez ja marquei um ultrassom, ansiosa que só agendei particular pq era mais rápido.. E eu ja no google da vida havia pesquisado sobre gravidez ectopia e anembreonaria... Não via a hora de ter certeza que meu presentinho estava la certinho! Fiz a ultra com 6 semanas e 4 dias e ouvi o som mais doce do mundo...
    embora meu desejo era esperar para contar aos 4 ventos a novidade, pois eu ja sabia que o primeiro trimestre é complicado, foi dificil segurar a familia.. e eu acabei entrando no clima e postei ate no facebook...
    Sempre tive medo, receio de perder o bebe ou de que algo ruim pudesse acontecer. . Mais também pensava que isso era coisa da minha cabeça, minha cabecinha mto insegura e nao confiante.. porem o tal aborto retido nunca havia me passado pela cabeça. .Pensava, não tem sangramento entao esta tudo ok! E na primeira ultra estava mesmo tudo lindo, tudo certinho. .
    No começo da gravidez estava passando mto.mal, senti todos os sintomas possíveis: enjoo, vômito, sono, muuuuita fome.. perdi 1 kg. Mais derrepente na 9 semana esses sintomas diminuiram derrepente e isso me chamou a atenção (embora todo mundo falando que eu era sortuda, que era normal) mais eu não achava normal. Comecei a ficar aflita e com uma sensação estranha. . Eu nao estava mais me sentindo gravida (assim como vc descreveu) parecia que meu ventre estava vazio.
    Ai volto ao início do meu depoimento... comecei a pesquisar, pesquisar e pesquisar e me deparei com o aborto retido, sem sintomas aparentes e sem sangramento. Encontrei seu blog. Li tudo, todos os comentarios. Eu estava com minha ultra de 12.semanas agendada para daqui duas semanas (estava com 10 semanas e 4 dias) porem ontem tive uma crise de choro e falei com meu marido e minha mae sobre o aborto retido. Parecia pressentir..Hoje para me tranquilizar agendei uma ultra particular e senti mto medo do resultado. .. e assim minhas supeitas foram confirmadas.. aborto retido. Meu bebe parou de se desenvolver logo apos o primeiro ultra com 8 semanas. Que bomba, parecia câmera lenta, que dor.. acabou a energia na hora e a televisao onde via meu bebezinh parou de pegar... meu mundo caiu...

    ResponderExcluir
  10. Passado isso tive entao que entender que alem da tristeza de perder meu bebe talvez precise passar por curetagem, sentir alem da dor emocional a física
    Minha médica explicou tudo, que eu poderia optar pela curetagem e correr os riscos do procedimento. . Ser internada, tomar citotec.. ou tentar esperar meu corpo expelir (apesar de ja estar a 3 semanas com o feto e nao ter expelido) e mais uma vez correr os riscos, neste caso de uma infecção no útero ou ainda nao expelir tudo e precisar mesmo da temida curetagem..
    O que mais me deixou triste foi isso... alem de sofrer a perda do bebê, ainda terei q passar por esse sofrimento, é foda! Revolta, desanima, entristece..
    optei por tentar uns dias antes de partir para curetagem e pedir a Deus que me ajude nisso.. para que eu nao precise da curetagem. O fato do bebe ainda estar dentro de mim não me incomoda. .É triste mais sei que posso levar a diante.
    a parte mais difícil agora é ter que avisar a todos, acabar com sonhos de avós.. tios.. padrinhos. .. guardar os presentinhos.. mudar os planos.. sei que vc entende bem como é isso..e ainda ter que lidar com esse sentimento de "pena" que eu odeio. Ja chorei tudo que posso hoje e parece que a tristeza nao acaba... e que o vazio nunca vai desaparecer. .
    MAIS EU SEI QUE VAI !! Assim como aconteceu.com vc, gravidinha novamente! Agora é levantar firme desse tombo e começar outra vez, novos sonhos, novos planos e projetos.. e deixar para trás, la nas estatísticas dos 20% de gravidez que terminam em abortos.
    AAssim.coo a amiga de cima.. vou parar por aqui as pesquisas no google e ficar apenas com suas palavras e sua historia !
    beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Ily
      Brigadíssima por seu relato. Lamento pela sua perda. Desejo, do fundo do coração, que já estejas bem melhor. Mande notícias se puder.
      Beijos

      Excluir

Comente, respeite e compartilhe opiniões. É bom para todos nós!

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.