sexta-feira, 29 de março de 2013

A gente pensa que planeja a vida, mas é ela que se planeja para nós

Há um ano eu e meu marido nos preparávamos para fazer uma das viagens mais incríveis de nossas vidas. Já tínhamos viajado bastante pela Europa e América Latina, mas em junho do ano passado fomos para a Ásia! A ideia foi realizar o que chamamos de "despedida de um casal sem filhos". Pensamos que era hora de fazer alguma maluquice que depois, com um bebê, não seria mais possível. Passamos pelo Japão, Malásia, Tailândia e até pelos Emirados Árabes, no Oriente Médio. Maravilhoso! E foi nessa viagem que parei de tomar o anticoncepcional. Engravidei dois meses depois, no finalzinho de agosto. Aí, esquecemos os roteiros turísticos e começamos a pensar em organizar a vida para receber nosso filho da melhor maneira possível.

Mas, em novembro, quando descobrimos que nosso bebê não viria mais e tive que passar pelas terríveis experiências do aborto retido, do Cytotec e da curetagem, ficamos sem chão. Estávamos estudando trocar de carro e até de apartamento, vendo escolinhas perto de casa, consultando planos de saúde, enxoval, enfim, tudo que se quer para um filho. E isso perdeu o sentido do dia para a noite. Aos poucos fomos interrompendo esses planos, porque não poderíamos continuar planejando coisas para um bebê que não viria agora. Esvaziamos nossa cabeça e começamos a pensar na possibilidade de fazer uma nova viagem. Afinal, já que a natureza adiou o sonho da maternidade, a vida estava nos dando a chance para mais uma maluquice de "casal sem filhos".

No final de novembro começamos a pesquisar passagens e encontramos uma promoção para viajar em abril. Mas eu tinha recém feito a curetagem e meu médico disse que em dois meses eu poderia voltar a tentar uma gravidez. Fizemos as contas e percebemos que, se seguíssemos o cronograma do médico, talvez eu já estivesse grávida em abril, e não é muito legal fazer "maluquices" quando se está grávida, né? Com o coração apertado, ficamos na dúvida se teríamos coragem de adiar as tentativas por alguns meses para fazer a viagem com tranquilidade. Desejamos muito um bebê e queríamos tentar novamente assim que possível. Esperar até abril poderia ser desanimador e a viagem poderia virar um empecilho e não um motivo de alegria. 

Porém, eu ainda não tinha ganhado alta e tinha uma ecografia pela frente. Pensei, "temos que trabalhar com o que existe agora", e o que existia naquele momento era a incerteza sobre quando poderia engravidar de novo. Então apoiei a ideia da viagem e compramos as passagens para 30 de março. E eis que vieram as surpresas do destino: nos meses seguintes, ecografia após ecografia, fui vivendo as frustrações de ainda ter restos ovulares no útero. Fiz tratamento com hormônios, aguardei vários ciclos, foram diversos exames, até que só a histeroscopia cirúrgica, em 12 de março, limpou de vez o meu útero. E eu estava aflita desde antes do procedimento, pois nessa altura nossa viagem estava toda planejada e paga, e comecei a temer que o problema não estivesse resolvido até a data do embarque, ou até que ele inviabilizasse a viagem. Seria uma tristeza! Mas perseverei...

E quem diria que eu receberia alta para voltar a engravidar justamente na semana da viagem? Fui liberada na segunda-feira passada, e amanhã embarcaremos nessa próxima aventura. É muita emoção! A vida faz dessas com a gente... Agora estou fazendo as malas com a sensação de que as férias serão de pura comemoração, de libertação. É como fazer festa no dia exato do aniversário (bem mais gostoso!). A viagem será na hora mais perfeita! E estamos muito felizes por termos apostado nessa ideia, pois como fui proibida de engravidar nos últimos meses - até voltei a tomar a pílula - de nada teria adiantado desistir da aventura em troca de engravidar mais rápido. Teríamos ficado sem as duas coisas.

Agora estamos prontos para recomeçar. Vamos viajar de novo, nos divertir de novo, sonhar de novo com um bebê, de novo vou parar de tomar o anticoncepcional e espero engravidar em breve, de novo. Talvez eu nem consiga aparecer por aqui nas próximas semanas - mas juro que vou tentar mandar notícias, mesmo que sejam rápidas. Quando retornar, prometo contar como foi. E, de onde estiver, estarei enviando energias positivas a todas que ainda estão passando pelos desafios da perda, do tratamento e da ansiedade. Lembrem-se: a vida está planejando algo para cada uma de nós. Só nos cabe ter paciência e colaborar!

Leia também: Eu retornei das férias, mas minha menstruação não...

terça-feira, 26 de março de 2013

Muito feliz: minha odisseia acabou!

Pensa num dia leve, numa noite bem dormida, em acordar feliz da vida! Foi assim que vivi de ontem para hoje, desde o momento em que o médico que fez a minha histeroscopia cirúrgica disse que eu estava liberada. Ele explicou que o nódulo polipóide que eu tinha no útero era, na verdade, os restos ovulares que durante meses apareceram nas ecografias, que o meu corpo de fato não conseguiu expelir e que por uma questão de anatomia assumiram o formato de um nódulo ou pólipo. Foi isso que apareceu no laudo da biópsia e nada mais. De resto, pelo que ele viu durante a histeroscopia, está tudo certo. Ufaaa!

Mas, preciso dizer uma coisa: alguns médicos nos tratam de forma tão indiferente, tão sem envolvimento, que eu fico até com um pé atrás. Ontem, enquanto me dava o resultado (positivo) da cirurgia, o médico parecia tão desconcentrado, com a cabeça tão em outro lugar, que me passou insegurança. Meu marido chegou a perguntar se eu achava que estava tudo bem mesmo. E olha que estou pagando os honorários desse médico, é particular! Não vou fazer disso mais uma paranoia, mas fica aqui registrada minha indignação com a indiferença demonstrada por muitos profissionais da saúde, que não estão nem aí se aquele momento está sendo difícil para você ou se você tem dúvidas.

Hoje pela manhã, por exemplo, fiquei meio cismada com um pequeno sangramento que apareceu. Eu não estava mais sangrando por causa do procedimento e estou tomando anticoncepcional, por isso minha estranheza. Será que é normal sangrar 15 dias depois da histeroscopia cirúrgica, mesmo depois de a recuperação parecer já ter acabado? Espero que sim... Se isso aumentar ou persistir, vou ligar para o médico.

Enfim, ele me disse que já posso tentar uma nova gravidez no próximo mês. Agora vou me esforçar para eliminar quaisquer resquícios de paranoia sobre tudo que passei e me preparar para a próxima tentativa. Apesar da cisma com o sangramento de hoje, estou feliz! E quero compartilhar isso com todos que estiveram ao meu lado (física ou virtualmente) na odisseia que vivi nos últimos quatro meses. Obrigada pelo apoio! Que sejamos todos muito felizes como estou hoje, cada um a seu tempo, cada um em seu tapete =)

Leia também: A gente pensa que planeja a vida, mas é ela que se planeja para nós

sexta-feira, 22 de março de 2013

Nem totalmente otimista, nem totalmente pessimista


Tenho respeitado com êxito o pedido de paciência feito pela vida. Estou tentando cuidar de mim, do meu corpo, da minha mente e das coisas que não podem parar – trabalho, pós-graduação, inglês, planejamento de férias, declaração do imposto de renda, economias e todos esses temas que fazem parte da nossa vida, com ou sem gestação, com ou sem perdas, com ou sem filhos. Tenho tentado acreditar, no fundo do coração, que o ciclo da perda do meu bebê foi encerrado com a histeroscopia cirúrgica que fiz no dia 12 de março. Tenho, mesmo, sido uma pessoa positiva.

Já sou capaz de pensar numa próxima gravidez. Por algum motivo, agora sinto isso como uma possibilidade, algo que está mais perto de acontecer e que talvez, dessa vez, seja feliz. Sinto alegria ao imaginar. Mas, como ainda preciso esperar o feedback do médico sobre a cirurgia e sobre o resultado da biópsia, às vezes fico na dúvida se deveria me permitir pensar nessas coisas ou se é melhor abstrair, não pensar nisso. Sonho com o dia em que o médico dirá: “Pronto, agora está tudo certo com você”. Talvez isso aconteça muito logo, talvez não. Só saberei na hora de saber. E o que pensar até lá? E a vontade de sentir que o sofrimento acabou? E o medo de descobrir que ainda não estou pronta?

Não tenho as respostas, apenas as perguntas. Mas para o quê nessa vida já temos todas as respostas? Quase nada. Então, viver um dia após o outro é o que tenho feito. Nem totalmente otimista, nem totalmente pessimista. Ainda faltam alguns dias para a próxima consulta, e preciso ficar bem até lá. Só isso.

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quarta-feira, 13 de março de 2013

Histeroscopia cirúrgica realizada. E a espera continua!

Antes de tudo, quero dizer que deu tudo certo na histeroscopia cirúrgica que fiz ontem. Segundo o médico, o nódulo era "grandinho", de 1,5 cm, mas correu tudo bem com o procedimento de retirada. Fiquei internada até o início da noite, meio grogue por causa da sedação e dos remédios para dor. Agora estou bem, sem medicação e sem dor. O sangramento é pouco, então acho que a recuperação será bem tranquila mesmo. De todo modo, por recomendação do cirurgião, ficarei de "molho" em casa por quatro dias.

Essa cirurgia me fez pensar de novo no "terrorismo" que fazemos com nossas mentes. Fiquei tão nervosa na véspera e na hora de ir para o centro cirúrgico, que tinha vontade de chorar e tremia de verdade. Isso porque, claro, tinha pesquisado tudo na internet, sobre o que é o procedimento, como ele é feito, com quais equipamentos, inclusive assisti alguns vídeos. É uma cirurgia muito, muito simples, mas para mim, que não sou da área médica, qualquer imagem que mostre uma parte interna do corpo, junto com um instrumento de metal e sangue será sempre extremamente aflitiva. E foi com essa aflição que deitei na mesa de operação. Mas, para quê?! Não sou eu que opero, não sou eu que ajudo o médico, eu sequer vejo o que está acontecendo durante o procedimento. Nesse caso, a minha parte era apenas ir lá, dormir feito um anjo, acordar e ir embora medicada e com um pequeno sangramento. Para que me preocupar com o resto, sobre o qual não tenho controle e nem responsabilidade? Para nada, mas não consigo evitar. Muito louco isso. Talvez um psicólogo diga que sou muito centralizadora, sei lá.

Enfim, mas se é por falta de aprendizado, lá vem a vida com a lição da paciência novamente. Agora tenho que aguardar 15 dias pelo resultado da biópsia. Só com isso retornarei ao cirurgião para ver se está tudo bem e, se tudo der certo, receber a alta dele. Mas ontem, no hospital, não me contive e perguntei quanto tempo depois dessa histeroscopia eu poderia voltar a tentar engravidar. Ele disse dois meses. Depois voltou atrás e disse: "dois não, três meses". Fiquei surpresa, porque tinha lido que geralmente as pacientes são liberadas logo após o período de recuperação da cirurgia, poucos dias. Enfim, vou tentar conversar melhor sobre isso na próxima consulta. Por hora, prefiro nem alimentar a ansiedade por uma próxima gravidez. Não acho que seja benéfico nesse momento. Estar bem, esperançosa e animada é o que temos para hoje! O resto virá ao seu tempo.

Leia também: Nem totalmente otimista, nem totalmente pessimista

domingo, 10 de março de 2013

Ansiedade de véspera: próxima etapa agendada!

Sabe aquela sensação de estar apertada para ir ao banheiro e, quando está chegando lá, achar que não vai mais conseguir segurar? Ou quando você está finalizando um serviço longuérrimo e, só por saber que está acabando, parece que as últimas tarefas são as mais difíceis? Isso tudo porque existe mais uma etapa entre o agora e a hora de dizer "ufa, acabou!". É o que estou sentindo. Minha histeroscopia cirúrgica para retirada do nódulo no útero  foi marcada para daqui dois dias. Trago uma mistura de sentimentos. Primeiro, o de preocupação em estar preparada, em deixar tudo pronto para o procedimento. Segundo, o de que esses dois dias passem logo para que a espera acabe e tudo aconteça de uma vez. Terceiro, o de esperança de que essa seja de fato a última batalha da minha guerra contra a série de intercorrências vivida após o aborto.

Essa "ansiedade de véspera" também tem a ver com as expectativas que vivi nos últimos dias. Ao tentar agendar a histeroscopia cirúrgica fui informada de que poderia demorar até 21 dias úteis (21 dias úteis!) para que o plano de saúde autorizasse o procedimento. E só depois disso é possível agendar com o médico e o hospital. Quase caí para trás. Na prática, seria mais um mês de espera, mais uma mês de paciência. Fiquei superdesanimada, mas o cirurgião me recomendou adiantar todos os exames necessários para a operação (de sangue, cardiológicos, com o anestesista) para deixar tudo pronto e, assim que o plano liberasse, agendaríamos para os dias seguintes. Bom, pelo menos eu teria com o que me ocupar nesse período.

Saí logo fazendo as consultas e exames necessários e já está quase tudo pronto (só falta a entrevista com o anestesista, marcada para amanhã). E heis que o destino agiu a meu favor: o plano de saúde autorizou o procedimento em apenas uma semana e o médico já pré-agendou a cirurgia para a próxima terça-feira. Só falta a consulta de amanhã e lá vou eu para o hospital novamente. Dessa vez será mais rápido do que quando me internei para receber o Cytotec e fazer a curetagem. Nem devo dormir no hospital. Estou feliz que as coisas estão acontecendo, e ansiosa!

Mas preciso falar de um quarto sentimento que está aqui, escondido no coração: o medo de estar enganada,  de que essa não seja a última batalha da guerra. Eu sei, preciso ser otimista (e tenho motivos para ser!), mas penso que na hora H o médico pode ver que há algo errado lá dentro, ou que daqui uns dias a biópsia possa revelar outro problema, essas coisas que não deveríamos ficar tentando "calcular", mas calculamos. Não é um sentimento predominante, mas ele está aqui e preciso lidar com isso. Ao mesmo tempo, não me culpo por essas sensações negativas. Afinal, hoje faz quatro meses que perdi meu bebê, e desde então várias vezes achei que estava na última batalha, e não estava.

Leia também: Histeroscopia cirúrgica realizada. E a espera continua! 

sábado, 2 de março de 2013

À espera da histeroscopia cirúrgica

Depois do meu último post, ansioso e aflito, volto aqui mais calma, mais certa de que tudo ficará bem. Fiquei até meio arrependida de ter escrito no calor da inquietude - não será bom para ninguém ler mais um post desesperado por aí - mas tudo bem, a nossa vida é feita de altos e baixos e não tem como, aqui, fingir que não é assim.

Alguns dias já se passaram, já visitei dois especialistas depois da ecografia e meu coração já se aquietou. Meu médico explicou que o nódulo pode, sim, ser resultado do processo de aborto. Também pode ser um mioma. Ou, ainda, um pólipo que eu já tinha antes da gravidez - o que acho improvável, porque sempre fiz ecografias e nunca apareceu nada. Mas, enfim, nem mesmo a medicina tem todas as respostas que queremos, no tempo e do jeito que queremos.

Muito provavelmente a histeroscopia cirúrgica, seguida de uma biópsia, sanará muitas dessas dúvidas. Mas, até lá, terei que esperar mais um pouco. De novo, a lição da paciência! Na verdade, o que tenho que lembrar é que de nada resolve sanar minhas dúvidas. Isso não muda o laudo, nem o passado, nem o futuro. A chave é confiar nos médicos e viver uma espera tranquila até a próxima etapa.

Meu médico indicou um especialista nesse procedimento e no mesmo dia fui consultar com ele. Não me deu muitos detalhes sobre o procedimento, só sei que não precisarei dormir no hospital (entro e saio no mesmo dia), que serei sedada e que o tempo de cirurgia é de 30 minutos, mais ou menos. Agora estou esperando, de dedos cruzados, coração aberto e pensamento positivo, o agendamento do procedimento. Espero que seja logo, mas já aprendi que as coisas acontecerão no seu tempo e que, até lá, terei que viver normalmente. É o que estou fazendo, trabalhando, escrevendo a monografia da pós-graduação, planejando as próximas férias, ajeitando a minha casa, papeando com os amigos, como se nada estivesse acontecendo.

Como diz São Raul: "Levante sua mão sedenta e recomece a andar. Não pense que a cabeça aguenta se você parar. Não, não, não, não".

Leia também: Ansiedade de véspera: próxima etapa agendada!